terça-feira, fevereiro 27, 2007

Cidades muradas

Em julho de 2006, na mesma manhã em que desenterrei uma “escama” de bronze da couraça de um guerreiro do décimo século a.C., numa camada arqueológica marcada por evidências de violento combate e destruição em Megido, no norte de Israel, moderníssimos caças israelenses passaram em vôos rasantes sobre nossa cabeça, voltando de mais um bombardeio no Líbano. Evidentemente, a tecnologia de guerra evoluiu enormemente, mas não a natureza humana. Como há milênios, os homens de hoje continuam se odiando e se matando pelos motivos de sempre... e ansiando pela paz.

A Bíblia está repleta de relatos de guerra, bem como de lições de paz. As escavações arqueológicas, por sua vez, têm revelado que a guerra e o medo da guerra dominavam a vida das pessoas dos tempos bíblicos, e nos ajudam a compreender as histórias e os ensinos bíblicos.

Para se protegerem dos ataques inimigos, todas as cidades eram circundadas por imensos muros de pedra. Os muros de Tel Dan, por exemplo, cidade na fronteira norte de Israel, tinham aproximadamente 5 a 7 metros de altura por quase 4 metros de largura. Falar de uma cidade sem muros era falar de absoluta fraqueza e vulnerabilidade: “Como cidade derrubada, que não tem muros, assim é o homem que não pode controlar seu espírito” (Provérbios 25:28).

O acesso às cidades se fazia através de imensos portais. Os de Gezer, Megido e Hazor, reconstruídos por Salomão (I Reis 9:15), descobertos pela Arqueologia, são quase idênticos, devendo ter seguido a mesma planta básica. Eles eram rapidamente fechados em tempo de guerra. Guardar os portais da cidade era tão vital que se tornou símbolo de sabedoria e grande prudência: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Salmo 141:3).

Em Megido, os arqueólogos encontraram um enorme silo para armazenagem de alimentos. Em Jerusalém, Arad, Hazor, Megido, Dan e outros sítios arqueológicos, complexos sistemas de abastecimento de água foram descobertos. Essas providências eram necessárias para o tempo de guerra, quando os exércitos inimigos cercavam as cidades, não permitindo que ninguém entrasse nem saísse, esperando que seus habitantes se rendessem por causa da sede e da fome. Nessa hora de indizível sofrimento, felizes eram os que podiam encontrar consolo na fé em Deus: “Ainda que um exército me cerque, o meu coração não temerá; ainda que a guerra se levante contra mim, nEle confiarei” (Salmo 27:3).

O sofrimento e a angústia constantes geravam, no coração de todos, profundo anseio por paz e segurança. Alguns as buscavam construindo muros cada vez maiores; outros, fazendo aliança com nações poderosas; outros ainda, formando exércitos, com numerosos carros e cavalos. O rei Davi, porém, chama atenção para a verdadeira fonte de segurança: “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus” (Salmo 20:7).

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

A cidade de Ramessés

Assuntos envolvendo a arqueologia bíblica e os livros de autoria mosaica tendem a ser constantemente questionados por acadêmicos liberais ao redor do mundo.[1] Apesar de alguns negarem a historicidade do início da nação israelita, há evidências para se crer que a narrativa do Pentateuco possui credibilidade histórica.[2] Entre os que defendem a realidade histórica do relato, há uma divisão quanto à data do Êxodo. O importante estudo cronológico de Edwin Thiele[3] sobre os reis de Israel situa o Êxodo em torno de 1450 a.C., ou seja, na XVIII dinastia (cf. I Rs 6:14; Jz 11:26); o faraó da ocasião seria Thutmose III ou Amenhotep II.[5]

Um segundo grupo defende data mais recente, algo em torno de 1300 a.C., exatamente no período do faraó Ramsés II, que viveu na XIX dinastia e é um dos monarcas mais conhecidos na história egípcia. Número significativo de pesquisadores do Antigo Testamento recorrem a Êxodo 1:11 para defender o Êxodo como tendo ocorrido na XIX dinastia,[7] onde é dito que os israelistas construíram duas cidades celeiros para o faraó: Pitom e Ramessés.

Entre as datas, temos um lapso de aproximadamente 150 anos. Como harmonizar as informações? A mera menção do nome Ramessés, em si, é um indicativo do Êxodo na XIX dinastia?

Neste artigo é feito um estudo de quatro alternativas não conclusivas sobre a identificação da bíblica Ramessés. A data do Êxodo não é abordada neste trabalho, por questões metodológicas. A pesquisa, portanto, ficará aberta para futuros complementos sobre o assunto.

** ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO

Ramessés como a Per-Ramesse egípcia

Per-Ramesse é uma abreviação do nome Per-Ramesse mry ‘Imn ‘aa nehtw, “residência de Ramses, amado de Amon, o grande Vencedor”.[8] O primeiro a sugerir essa possibilidade foi H. Brugsch, em 1875.[9] Outra versão do nome pode aparecer como Pi-Ramesse. Os estudos arqueológicos têm lançado luz considerável sobre o histórico de Per-Ramesse.[10] Inscrições egípcias informam que ela foi fundada por Seti I, o segundo faraó da XIX dinastia, e concluída pelo seu filho Ramsés II.[11] Essa cidade foi a capital dessa dinastia, e tem sido identificada com Tanis e/ou Qantir.[12] Vejamos brevemente essas duas identificações, começando com Tanis.

O primeiro a sugerir que a cidade Per-Ramesse estava localizada em Tanis foi novamente H. Brugsch, em 1872.[13] Segundo Siegfried J. Schwantes, após a expulsão dos Hiksos, a cidade de Ávaris teve seu nome mudado para Tanis e aparece no Antigo Testamento com o nome Zõa (cf. Nm 13:22; Sl 78:12 e 43).[14] A declaração em parte é verdadeira, porém, o momento onde Ávaris é identificada com Tanis é questionável.

Tanis é a atual San el-Hagar e teve seus primeiros trabalhos feitos por Auguste Marriette (1860-1880), posteriormente por Flinders Petrie (1883-1886) e de forma significativa por Pierre Montet (1921-51). Ali foram encontrados vários templos dedicados às divindades Amum, Ptah, Re, etc., mas o palácio real de Ramsés II não foi encontrado. A identificação de Tanis com a Per Ramesse egípcia torna-se mais difícil ainda se levarmos em consideração as pesquisas posteriores ao trabalho de Montet. Os objetos encontrados lá, ou seja, em Sane l-Hagar, foram colocados ali posteriormente para construções, não no período do faraó Ramsés II. William Shea afirma que não há nenhuma confirmação arqueológica de habitação em Tanis antes da XXI dinastia, c. 1100 a.C.[15]

Sobre Qantir a situação é mais harmoniosa. Qantir fica 17 km ao sul de San el Hagar. Mahmud Hamza foi o primemiro a escavar Qantir em 1928. As descrições de Per Ramesse que temos disponíveis no papiro Anastasis III, a saber, a fertilidade do campo, a existência de uma rota por terra e outra pelo mar para a Ásia e a presença de um palácio de Ramsés II, correspondem ao campo geográfico de Qantir.

Seu nome atual é Tell el-Dab’a e foi escavada por Manfred Bietak, diretor do Austrian Archaeological Institute, em meados da década de 1950. Os restos de ocupação dessa cidade por volta das dinastias XII e XIII revelam um fim por meio de uma grande e violenta destruição. Após a destruição, três estratos dos hyksos, sendo que o terceiro e último revela outra destruição violenta. Esta última pode ser relacionada com o início da XVIII dinastia, quando o faraó Ahmose expulsou os governantes semitas do Delta. Evidências apontam para o fato de que os faraós desta dinastia (XVIII) não tenham usado essa cidade, mas na dinastia seguinte (a XIX) ela foi reconstruída.[16]

De acordo com Hershel Shanks, editor da Biblical Archaeology Review, a identificação da Ramessés bíblica com a Per-Ramesse egípcia é impossível foneticamente. Fontes egípcias nunca se referiram a essa cidade com o nome real de Ramessés, sozinho, antes, sempre é mencionada com a palavra egípcia pr (casa), ou seja, Per-Ramesse.[17] A mesma opinião é defendida por E. Uphill e D. Cameron Alexander Moore.[18]

Montet contra-argumenta a ausência do prefixo Per ou Pi no nome Ramesses. Para ele, esse é um fenômeno comum no texto veterotestamentário. Temos como exemplo o nome Baal-Meon, em Números 32:38, e Bet-Baal-Meon, em Josué 13:17, ou seja, a ausência do prefixo Bet (casa). Para ele, nomes puramente semíticos ou hebraicos podem, sim, ter tal ausência.[19]

Porém, é importante lembrar que boa parte das cidades egípcias começadas com o prefixo Pi ou Per, mencionadas nas páginas do Antigo Testamento (cf. Nm 33:8[20]; Ez 30:17) não o perderam. Se a Per Ramesse egípcia é a Ramessés bíblica, por que seu prefixo não aparece no texto? Per-Ramesse, portanto, não parece ser uma alternativa satisfatória para nossa pesquisa.

Ramessés como Khatana

À semelhança de Ramose, esta é uma alternativa da qual não se dispõe de muitas informações. Ao leste do braço pelusiano do Nilo, existem as ruínas de duas cidades: Qantir e Khatana. As escavações ali têm demonstrado um grande assentamento cananita e seus restos mostram uma grande afinidade com restos siro-palestinenses de c. 1700 a.C. a 1500 a.C., que foram encontrados em Tell el-Rataba, a bíblica Pithom.

A transliteração do hieróglifo usado para se referir a essa cidade é R3-mtny, que, segundo Shanks, pode ser projetado numa língua semítica como Ramezen.[21]

Durante as escavações dirigidas pelo austríaco Manfred Bietak, uma inscrição fragmentada com o nome Horemhab foi encontrada. Isso é significativo, já que este é o último faraó da XVIII dinastia. Podemos supor que houve alguma habitação em Khatana no período da XVIII dinastia, esperando é claro por novas descobertas que corroborem a historicidade do relato bíblico.

Ramessés como um anacronismo

Essa é uma das opiniões mais comuns entre os acadêmicos mais conservadores. A idéia básica desta opinião é a de que um copista posterior substituiu um nome antigo por um mais recente.[22]

É importante lembrar que o nome Ramessés não é usado no Pentateuco no sentido cronológico. Em Gênesis 47:11, por exemplo, está escrito que Jacó e seus filhos foram colocados na terra de Ramessés. Isso implica que a família de José desceu para o Egito no período do faraó com esse nome? De maneira nenhuma, antes, o nome deve ser entendido como uma atualização do texto.

A menção do nome Ramessés não é um indício forte o bastante para a localização do Êxodo na XIX dinastia. Se o Êxodo ocorreu em 1300 a.C., quando Móisés estava com 80 anos, e se o trabalho na cidade Ramessés ocorreu antes do nascimento de Moisés, temos que admitir que o nome Ramessés era comum antes dos chamados faraós ramessidas, e que a cidade não está necessariamente ligada a nenhum deles.[23]

Em Genesis 14:14 temos um exemplo semelhante. Ali é mencionada uma cidade cujo nome era Dan. O curioso é que na época de Abraão ela não se chamava Dan, mas sim Laish (cf. Jz 18:29) ou Leshem (cf. Js 19:47). O nome Dan foi usado muito tempo depois, na época dos juízes. Ramessés pode ser entendido da mesma forma.

Apesar de ser uma alternativa aparentemente muito válida para esta pesquisa, ela não está isenta de pontos fracos. O Antigo Testamento está repleto de exemplos de anacronismos, mas sempre quando o nome da cidade na época do copista é mencionado, o nome anterior a ele também é introduzido no texto (cf. Gn 28:19; Js 15:15; Jz 1:23).

Um exemplo de anacronismo na História é a referência à Palestina nos dias de Jesus, sendo que na época de Cristo não havia Palestina, já que o termo foi criado pelo Imperador Adriano, a partir do ano 135 d.C.

Ramessés e o vizir Ramose

Ramose foi um vizir, ou seja, um cargo semelhante ao de primeiro-ministro, hoje. Ele viveu durante os reinados de Amenhotep III e Akhnaten. A principal fonte de conhecimento a respeito dele é a sua própria tumba, a TT55 (Tumba de Tebas nº 55). Apesar de Ramose ter vivido cem anos depois da data bíblica do Êxodo, seu nome era comum desde a época dos hycsos.[24[

Gleason Archer Jr. liga o nome Ramose à cidade Ramesses de Êxodo 1:11. A semelhança na escrita para ele é significativa, já que o nome Ramose em egípcio antigo (r m s) tem uma grafia muito próxima do hebraico rm‘s.[25] Porém, lemos no próprio texto que a cidade foi construída para Faraó, não para um nobre ou vizir. Além disso, carecemos de exemplos de vizires no Egito antigo que se auto-homenageavam por meio de “cidades”. Ramose não parece ser uma alternativa satisfatória em nossa pesquisa.

** CONCLUSÃO

A mera menção do nome Ramessés não é em si evidência do Êxodo na XIX dinastia. Após termos apresentado quatro alternativas não conclusivas sobre o assunto, preferimos aquela que liga Ramessés à antiga cidade Khatana do braço Pelusiano do Delta, e a outra que coloca o nome Ramessés como um anacronismo, já que ambas se encaixam perfeitamente com uma visão equilibrada do relato bíblico.

(Por Luiz Gustavo S. Assis)

Referências

1. Ver por exemplo FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. E a Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003.

2. PRICE, Randall. Pedras que clamam. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 114-115. O grande número de nomes egípcios entre o povo de Israel é um ótimo argumento para a estadia dos israelitas no país dos faraós. Temos, por exemplo, o nome Finéas, que aparece em conexão com um sacerdote. PRITCHARD, James B. Ancient Near Eastern Texts: Relating to the Old Testament. Third edition with supplement. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1969. p. 216, n. (6). Algumas palavras que compõem o vocabulário hebraico do pentateuco são puramente egípcias. A palavra selo (cf. Gn 41:42), por exemplo, em hebraico é hotam e em egípcio htm. Linho fino em egípcio antigo é shash, já em hebraico, shesh (cf. Gn 38:18 e 25). SCHWANTES, Siegfried J. Arqueologia. São Paulo: IAE, 1988. p. 28-29. Por muito tempo, a hipótese documentária, que teve como principal defensor o alemão J. Welhausen, trabalhou com a idéia de que o pentateuco era na verdade uma compilação de textos feita por volta do VI século a.C. O apogeu da língua egípcia foi em torno do segundo milênio a.C., não na metade do primeiro milênio, ou seja, tais semelhanças no vocabulário só fazem sentido quando datamos a obra por volta do XV século a.C. Como introdução ao tema da hipótese documentária, ver: CASSUTO, Umberto. The documentary hypothesis and the composition of the Pentateuch. Jerusalem: Magnes Press, The Hebrew University, 1983.

3. Thiele.

4. KITCHEN, Keneth. How we know when Solomon ruled? Biblical Archaeology Society Online Archive ou o número da BAR com esse artigo. Através de calendários mesopotâmicos e egípcios, Kitchen apresenta razões sólidas para situarmos o reinado de Salomão entre 970 a.C a 930 a.C.

5. HOWARD JR., David M.; GRISANTI, Michael. Giving the Sense: Understanding and Using Old Testament Historical Texts. Grand Rapids, MI: Kregel, 2003. p. 245-247. Neste caso, Thutmoses III seria o faraó da opressão e Amenhotep II, seu filho, seria o faraó do Êxodo. Nos primeiros capítulos de Êxodo, vemos uma agitação no campo da construção civil, o que para alguns é totalmente improvável ter ocorrido na XVIII dinastia, como por exemplo CURVILLE, Donovan. The Exodus problem and its ramifications, vol. 1. Challenge Books: CA, 1971. p. 34. É importante mencionarmos que na tumba do vizir Rekhmire, que viveu na época de Thutmoses III, foram encontradas pinturas de escravos semitas fazendo e transportando tijolos. A informação é significativa já que demonstra um envolvimento indireto de Thutmoses III com construções na época do seu reinado. Para outras informações sobre Rekhmire, ver: PRITCHARD, James B. op. cit., p. 212-213. Ver também: ARCHER JR., Gleason. A Survey of Old Testament Introduction. Moody Press: Chicago, 1968. p. 215.

7. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Old Testament Survey: The message, form and background of the Old Testament. 1. ed. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992. p. 126. LIVINGSTON, G. Hebert. The Pentateuch in its cultural environment. Grand Rapids, MI: Baker, 1987, p. 47-48. ZUCK, Roy. gen. ed. Vital Apologetic Issues: Examinig Reason and Revelation in Bible Perspective. Grand Rapids, MI: Kregel, 1995, p. 250. FINEGAN, Jack. Handbook of biblical chronology: Principles of time reckoning in the ancient world and problems of chronology in the Bible. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1964. p. 300.

8. MONTET, Pierre. Egypt and the Bible. Philadelphia: Fortress Press, 1968. p. 54.

9. BIMSON, John J., Redating the exodus and conquest. Sheffield, England: The Almond Press, 1981. p. 33-34

10. PRITCHARD, James B., op. cit. p. 470-471.

11. HILL, Andrew E.; HALTON, John H. A survey of Old Testament. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1991. p. 109).

12. YAMAUCHI, Edwin M. The stones and the Scriptures. Philadelphia: A Holman Book, 1973. p. 48.

13. BIMSON, John J., op. cit., p. 34.

14. SCHWANTES, Siegfried J., op. cit., p. 25.

15. SHEA, William. H., "Exodus, Date of the", in G. W. Bromiley et al. (eds.), The International Standard Bible Encyclopedia. Paternoster Press: Exeter, vol. 2, 1982. p. 231.

16. Ibid.

17. SHANKS, Hershel. The Exodus and the Crossing of the Red Sea, According to Hans Goedicke. Biblical Archaeology Society on line Archive. Disponível aqui. Acessado em 14-05-06.

18. MOORE, D. Cameron Alexander. The Date of the Exodus: Introduction to the Competing Theories. Disponível aqui. Acessado em 22-05-06.

19. MONTET, Pierre. Op. cit. p. 54-55.

20. SARNA, Nahum. Israel in Egypt: The Egyptian Sojourn and the Exodus. Biblical Archaeology Society Online Archive. Disponível aqui. Acessado em 25-05-06. Outra alternativa para a historicidade do Êxodo ser corroborada é quando analisamos as listas geográficas do Pentateuco. Neste artigo, Sarna apresenta evidências para a realidade histórica do evento.

21. SHANKS, Hershel. op. cit.

22. YAMAUCHI, Edwin M. The stones and the Scriptures. Philadelphia: A Holman Book, 1973. p. 48-50.

23. DYER, Charles H. The Date of the Exodus Reexamined. Disponível aqui. Acessado em 19-05-06.

24. GEISLER, Norman. Ed. Inerrância da Bíblia. São Paulo: Ed. Vida, 2001. p. 85.

25. Ibid.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

O Novo Testamento é historicamente confiável

Recentemente foi questionada no blog www.michelsonborges.com a veracidade histórica do Novo Testamento (NT). Há muitos bons livros no mercado sobre isso, mas procurei reproduzir aqui, de forma resumida, as dez razões apresentadas no livro Não tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu (Vida), pelas quais sabemos que os autores do NT disseram a verdade.

1. Os autores do NT incluíram detalhes embaraçosos sobre si mesmos. A tendência da maioria dos autores é deixar de fora qualquer coisa que prejudique sua aparência. É o “princípio do embaraço”. Agora pense: Se você e seus amigos estivessem forjando uma história que você quisesse que fosse vista como verdadeira, vocês se mostrariam como covardes, tolos e apáticos, pessoas que foram advertidas e que duvidaram? É claro que não. Mas é exatamente isso que encontramos no NT. Se você fosse autor do NT, escreveria que um dos seus principais líderes foi chamado de “Satanás” por Jesus, negou o Senhor três vezes, escondeu-se durante a crucifixão e, mais tarde, foi repreendido numa questão teológica?

O que você acha que os autores do NT teriam feito se estivessem inventando uma história? Teriam deixado de lado a sua inaptidão, sua covardia, a repreensão que receberam, as negações e seus problemas teológicos, mostrando-se como cristãos ousados que se colocaram a favor de Jesus diante de tudo e que, de maneira confiante, marcharam até a tumba na manhã de domingo, bem diante dos guardas romanos, para encontrarem o Jesus ressurreto que os esperava para salvá-los por sua grande fé! Os homens que escreveram o NT também diriam que eles é que contaram às mulheres sobre o Jesus ressurreto, que eram as únicas que estavam escondendo-se por medo dos judeus. E, naturalmente, se a história fosse uma invenção, nenhum discípulo, em momento algum, teria sido retratado como alguém que duvida (especialmente depois de Jesus ter ressuscitado).

2. Os autores do NT incluíram detalhes embaraçosos e dizeres difíceis de Jesus. Os autores do NT também são honestos sobre Jesus. Eles não apenas registraram detalhes de uma auto-incriminação sobre si mesmos, mas também registraram detalhes embaraçosos sobre seu líder, Jesus, que parecem colocá-Lo numa situação bastante ruim. Exemplos: Jesus foi considerado “fora de Si” por Sua mãe e Seus irmãos, por quem também foi desacreditado; foi visto como enganador; foi abandonado por Seus seguidores e quase apedrejado certa ocasião; foi chamado de “beberrão” e de “endemoninhado”, além de “louco”. Finalmente, foi crucificado como malfeitor.

Entre as situações teologicamente “embaraçosas”, encontramos as seguintes: Ele amaldiçoa uma figueira (Mat. 21:18); Ele parece incapaz de realizar milagres em Sua cidade natal, exceto curar algumas pessoas doentes (Mar. 6:5); e parece indicar que o Pai é maior que Ele (João 14:28). Se os autores do NT queriam provar a todos que Jesus era Deus, então por que não eliminaram dizeres e situações complicados que parecem argumentar contra a Sua deidade? Os autores do NT foram extremamente precisos ao registrar exatamente aquilo que Jesus disse e fez.

3. Os autores do NT incluíram as exigências de Jesus. Se os autores do NT estavam inventando uma história, certamente não inventaram uma que tenha tornado a vida mais fácil para eles. Esse Jesus tinha alguns padrões bastante exigentes. O Sermão do Monte (Mateus 5), por exemplo, não parece ser uma invenção humana. São mandamentos difíceis de ser cumpridos pelos seres humanos e parecem ir na direção contrária dos interesses dos homens que os registraram. E certamente são contrários aos desejos de muitos hoje que desejam uma religião de espiritualidade sem exigências morais.

4. Os autores do NT fizeram clara distinção entre as palavras de Jesus e as deles. Embora não existam aspas ou travessão para indicar uma citação no grego do século I, os autores do NT distinguiram as palavras de Jesus de maneira bastante clara. Teria sido muito fácil para esses homens resolverem as disputas teológicas do primeiro século colocando palavras na boca de Jesus. E fariam isso também, caso estivessem inventando a “história do cristianismo”. Teria sido muito conveniente para esses autores terminar todo debate ou controvérsia em torno de questões como circuncisão, leis cerimoniais judaicas, falar em línguas, mulheres na igreja e assim por diante, simplesmente inventando citações de Jesus. Mas eles nunca fizeram isso. Mantiveram-se fiéis ao que Jesus disse e não disse.

5. Os autores do NT incluíram fatos relacionados à ressurreição de Jesus que eles não poderiam ter inventado. Eles registraram que Jesus foi sepultado por José de Arimatéia, um membro do Sinédrio – o conselho do governo jadaico que sentenciou Jesus à morte por blasfêmia. Esse não é um fato que poderiam ter inventado. Considerando a amargura que certos cristãos guardavam no coração contra as autoridades judaicas, por que eles colocariam um membro do Sinédrio de maneira tão positiva? E por que colocariam Jesus na sepultura de uma autoridade judaica? Se José não sepultou Jesus, essa história teria sido facilmente exposta como fraudulenta pelos inimigos judaicos do cristianismo. Mas os judeus nunca negaram a história e jamais se encontrou uma história alternativa para o sepultamento de Jesus.

Todos os quatro evangelhos dizem que as mulheres foram as primeiras testemunhas do túmulo vazio e as primeiras a saberem da ressurreição. Uma dessas mulheres era Maria Madalena, que Lucas admite ter sido uma mulher possuída por demônios (Luc. 8:2). Isso jamais teria sido inserido numa história inventada. Uma pessoa possessa por demônios já seria uma testemunha questionável, mas as mulheres em geral não eram sequer consideradas testemunhas confiáveis naquela cultura do século I. O fato é que o testemunho de uma mulher não tinha peso num tribunal. Desse modo, se você estivesse inventando uma história da ressurreição de Jesus no século I, evitaria o testemunho de mulheres e faria homens – os corajosos – serem os primeiros a descobrir o túmulo vazio e o Jesus ressurreto. Citar o testemunho de mulheres – especialmente de mulheres possuídas por demônios – seria um golpe fatal à tentativa de fazer uma mentira ser vista como verdade.

“Por que o Jesus ressurreto não apareceu aos fariseus?” é uma pergunta comum feita pelos céticos. A resposta pode ser porque não teria sido necessário. Isso é normalmente desprezado, mas muitos sacerdotes de Jerusalém tornaram-se cristãos. Lucas escreve: “Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé” (Atos 6:7). Se você está tentando fazer que uma mentira seja vista como verdade, não facilita as coisas para os seus inimigos, permitindo que exponham a sua história. A conversão dos fariseus e a de José de Arimatéia eram dois detalhes desnecessários que, se fossem falsos, teriam acabado com a “farsa” de Lucas.

Em Mateus 28:11-15, é exposta a versão judaica para o fato do túmulo vazio (a mentira do roubo do corpo de Jesus). Note que Mateus deixa bastante claro que seus leitores já sabiam sobre essa explicação dos judeus porque “essa versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje”. Isso significa que os leitores de Mateus (e certamente os próprios judeus) saberiam se ele estava ou não dizendo a verdade. Se Mateus estava inventando a história do túmulo vazio, por que daria a seus leitores uma maneira tão simples de expor suas mentiras? A única explicação plausível é que o túmulo deve ter realmente ficado vazio, e os inimigos judeus do cristianismo devem realmente ter espalhado essa explicação específica para o túmulo vazio (de fato, Justino Mártir e Tertuliano, escrevendo respectivamente nos anos 150 d.C. e 200 d.C., afirmam que as autoridades judaicas continuaram a propagar essa história do roubo durante todo o século II).

6. Os autores do NT incluíram em seus textos, pelo menos, 30 pessoas historicamente confirmadas. Não há maneira de os autores do NT terem seguido adiante escrevendo mentiras descaradas sobre Pilatos, Caifás, Festo, Félix e toda a linhagem de Herodes. Alguém os teria acusado por terem envolvido falsamente essas pessoas em acontecimentos que nunca ocorreram. Os autores do NT sabiam disso e não teriam incluído tantas pessoas reais de destaque numa ficção que tinha o objetivo de enganar.

7. Os autores do NT incluíram detalhes divergentes. Os críticos são rápidos em citar os relatos aparentemente contraditórios dos evangelhos como evidência de que não são dignos de confiança em informação precisa. Mateus diz, por exemplo, que havia um anjo no túmulo de Jesus, enquanto João menciona a presença de dois anjos. Não seria isso uma contradição que derrubaria a credibilidade desses relatos? Não, mas exatamente o oposto é verdadeiro: detalhes divergentes, na verdade, fortalecem a questão de que esses são relatos feitos por testemunhas oculares. Como? Primeiro, é preciso destacar que o relato dos anjos não é contraditório. Mateus não diz que havia apenas um anjo na sepultura. Os críticos precisam acrescentar uma palavra ao relato de Mateus para torná-lo contraditório ao de João. Mas por que Mateus mencionou apenas um anjo, se realmente havia dois ali? Pela mesma razão que dois repórteres de diferentes jornais cobrindo um mesmo fato optam por incluir detalhes diferentes em suas histórias. Duas testemunhas oculares independentes raramente vêem todos os mesmos detalhes e descrevem um fato exatamente com as mesmas palavras. Elas vão registrar o mesmo fato principal (Jesus ressuscitou dos mortos), mas podem diferir nos detalhes (quantos anjos havia no túmulo). De fato, quando um juiz ouve duas testemunhas que dão testemunho idêntico, palavra por palavra, o que corretamente presume? Conluio. As testemunhas se encontraram antecipadamente para que suas versões do fato concordassem.

À luz dos diversos detalhes divergentes do NT, está claro que os autores não se reuniram para harmonizar seus testemunhos. Isso significa que certamente não estavam tentando fazer uma mentira passar por verdade. Se estavam inventando a história do NT, teriam se reunido para certificar-se de que eram coerentes em todos os detalhes.

Ironicamente, não é o NT que é contraditório, mas sim os críticos. Por um lado, os críticos afirmam que os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) são por demais uniformes para serem fontes independentes. Por outro lado, afirmam que eles são muito divergentes para estarem contando a verdade. Desse modo, o que eles são? Muito uniformes ou muito divergentes? Na verdade, são a mistura perfeita de ambos: são tanto suficientemente uniformes e suficientemente divergentes (mas não tanto) exatamente porque são relatos de testemunhas oculares independentes dos mesmos fatos. Seria de esperar ver o mesmo fato importante e detalhes menores diferentes em manchetes de jornais independentes relatando o mesmo acontecimento.

Simon Greenleaf, professor de Direito da Universidade de Harvard que escreveu um estudo-padrão sobre o que constitui evidência legal, creditou sua conversão ao cristianismo ao seu cuidadoso exame das testemunhas do evangelho. Se alguém conhecia as características do depoimento genuíno de testemunhas oculares, essa pessoa era Greenleaf. Ele concluiu que os quatro evangelhos “seriam aceitos como provas em qualquer tribunal de justiça, sem a menor hesitação” (The Testimony of the Evangelists, págs. 9 e 10).

8. Os autores do NT desafiam seus leitores a conferir os fatos verificáveis, até mesmo fatos sobre milagres. Lucas diz isso a Teófilo (Luc. 1:1-4); Pedro diz que os apóstolos não seguiram fábulas engenhosamente inventadas, mas que foram testemunhas oculares da majestade de Cristo (II Ped. 1:16); Paulo faz uma ousada declaração a Festo e ao rei Agripa sobre o Cristo ressurreto (Atos 26) e reafirma um antigo credo que identificou mais de 500 testemunhas oculares do Cristo ressurreto (I Cor. 15). Além disso, Paulo faz uma afirmação aos cristãos de Corinto que nunca teria feito a não ser que estivesse dizendo a verdade. Em sua segunda carta aos corintios, ele declara que anteriormente realizara milagres entre eles (II Cor. 12:12). Por que Paulo diria isso a eles a não ser que realmente tivesse realizado os milagres? Ele teria destruído completamente sua credibilidade ao pedir que se lembrassem de milagres que nunca realizara diante deles.

9. Os autores do NT descrevem milagres da mesma forma que descrevem outros fatos históricos: por meio de um relato simples e sem retoques. Detalhes embelezados e extravagantes são fortes sinais de que um relato histórico tem elementos lendários. Note este trecho da narração da ressurreição no livro apócrifo Evangelho de Pedro: “...três homens que saíam do sepulcro, dois dos quais servindo de apoio a um terceiro, e uma cruz que ia atrás deles. E a cabeça dos dois primeiros chegava até o céu, enquanto a daquele que era conduzido por eles ultrapassava os céus. E ouviram uma voz vinda dos céus que dizia: ‘Pregaste para os que dormem?’ E da cruz fez-se ouvir uma resposta: ‘Sim’.”

Provavelmente seria assim que alguém teria escrito se estivesse inventando ou embelezando a história da ressurreição de Jesus. Mas os relatos da ressurreição de Jesus no NT não contêm nada semelhante a isso. Os evangelhos fornecem descrições triviais quase insípidas da ressurreição. Confira em Marcos 16:4-8, Lucas 24:2-8, João 20:1-12 e Mateus 28:2-7.

10. Os autores do NT abandonaram parte de suas crenças e práticas sagradas de longa data, adotaram novas crenças e práticas e não negaram seu testemunho sob perseguição ou ameaça de morte. E não são apenas os autores do NT que fazem isso. Milhares de judeus, dentre eles sacerdotes fariseus, converteram-se ao cristianismo e juntam-se aos apóstolos ao abandonarem o sistema de sacrifícios de animais prescrito por Moisés, ao aceitar Jesus como integrante da Divindade (o que era inaceitável naquela cultura estritamente monoteísta) e ao abandonar a idéia de um Messias conquistador terrestre.

Além disso, conforme observa Peter Kreeft, “por que os apóstolos mentiriam? ... se eles mentiram, qual foi sua motivação, o que eles obtiveram com isso? O que eles ganharam com tudo isso foi incompreensão, rejeição, perseguição, tortura e martírio. Que bela lista de prêmios!” Embora muitas pessoas venham a morrer por uma mentira que considerem verdade, nenhuma pessoa sã morrerá por aquilo que sabe que é uma mentira.

Conclusão de Norman Geisler e Frank Turek, autores de Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu: “Quando Jesus chegou, a maioria dos autores do NT era de judeus religiosos que consideravam o judaísmo a única religião verdadeira e que se consideravam o povo escolhido de Deus. Alguma coisa dramática deve ter acontecido para tirá-los do sono dogmático e levá-los a um novo sistema de crenças que não lhes prometia nada além de problemas na Terra. À luz de tudo isso, não temos fé suficiente para sermos céticos em relação ao Novo Testamento.”

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Os Manuscritos do Mar Morto

Durante toda a Idade Média, por interesses principalmente políticos e econômicos, a Igreja foi aos poucos agasalhando em seu seio doutrinas e costumes absolutamente contrários ao espírito e ensinos de Jesus e dos apóstolos. Por essa razão, muitas pessoas passaram a temer que a Bíblia também tivesse sofrido alterações significativas. O receio era de que o texto do Antigo Testamento que temos hoje não fosse exatamente aquele no qual Jesus e os apóstolos basearam todos os seus ensinos; que não fosse mais a “Palavra de Deus” como originalmente havia sido escrita. Felizmente, a Arqueologia praticamente acabou com essa dúvida. E tudo graças a um menino!

Em 1947, vasculhando as cavernas do extremamente árido e inóspito lado ocidental do Mar Morto, em busca de uma ovelha perdida, um garoto beduíno encontrou grandes vasos de barro que continham antigos manuscritos escondidos ali. A partir de então, outros beduínos e arqueólogos encontraram, em onze cavernas da região, mais de 800 diferentes manuscritos, incluindo todos os livros do Antigo Testamento, com exceção dos livros de Ester e Neemias. De alguns livros da Bíblia foram encontrados apenas fragmentos; em outros casos, a maior parte do texto foi recuperada. O livro do profeta Isaías foi encontrado praticamente inteiro!

Apenas um dos rolos havia sido escrito em finas folhas de cobre. Todos os demais foram escritos em pergaminho (pele de animal especialmente preparada para essa finalidade). Assim, por terem utilizado material orgânico, esses livros bíblicos puderam ser submetidos ao processo de datação conhecido como Carbono 14. Outro método utilizado para determinar a época em que foram escritos foi a análise paleográfica (análise da forma da escrita, que em cada época tem características típicas). Surpreendentemente, constatou-se que os manuscritos haviam sido produzidos entre o século II a.C. e o século I d.C. – portanto, em dias anteriores e contemporâneos a Jesus! Judeus zelosos dessa época, provavelmente para salvar os livros sagrados de algum perigo iminente, devem tê-los escondido nas remotas e quase inacessíveis cavernas do Mar Morto. E – maior surpresa ainda! – quando comparados, constatou-se que os livros do Antigo Testamento que temos hoje são essencialmente idênticos aos textos que existiam nos dias de Jesus!

Jesus certa vez disse: “Vós examinais as Escrituras porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de Mim” (João 5:39). Como é confortador saber que as Escrituras que temos hoje em nossas mãos são aquelas mesmas que Jesus lia e ensinava!

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

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