quarta-feira, outubro 24, 2007

Pesquisadora identifica carimbo de Jezabel

Na Bíblia, ela ganhou fama de manipuladora, inescrupulosa e até devassa. A rainha Jezabel é uma das piores vilãs do Antigo Testamento, sem dúvida. Mas pelo menos tinha um bocado de estilo, a julgar pelo sinete (uma espécie de carimbo pessoal) que uma pesquisadora holandesa acaba de identificar como pertencente a ela - um dos raros [sic] casos em que um personagem bíblico deixa traços diretos de sua existência.

A análise que confirmou a associação de Jezabel com o sinete, que é feito de opala e está repleto de desenhos e inscrições, foi feita por Marjo Korpel, especialista da Universidade de Utrecht. Com o trabalho de Korpel, que será publicado numa revista científica especializada em estudos lingüísticos, parece chegar ao fim um mistério de quatro décadas.

Isso porque já se suspeitava que o artefato, obtido nos anos 1960 por um arqueólogo israelense no mercado de antigüidades, tivesse pertencido a Jezabel. Mas havia um problema bizarro: o suposto nome da rainha, gravado na opala, estava escrito errado - o que levou muita gente a achar que se tratasse de uma outra pessoa, embora de nome parecido.

Com paciência de detetive, Korpel analisou o sinete e o comparou com outros objetos do mesmo tipo e da mesma época, ou seja, produzidos por volta do ano 850 a.C., quando viveram Jezabel e seu marido Acabe, rei de Israel. Pela distribuição das letras e pela presença de uma pequena área quebrada no objeto, a pesquisadora holandesa estimou que originalmente havia mais duas letras hebraicas no sinete - o suficiente para "corrigir" o nome de Jezabel.

Além disso, o objeto era muito maior que os outros da mesma época e repleto de símbolos associados à realeza e ao sexo feminino, como uma esfinge com coroa de rainha, serpentes e falcões. Para Morjen, tudo isso torna altíssima a probabilidade de que o sinete realmente tenha pertencido a Jezabel.

Jezabel (de origem fenícia, segundo a Bíblia) e seu marido Acabe reinaram numa época em que o antigo reino israelita estava dividido em duas partes rivais: Judá, no sul, cuja capital era Jerusalém e cujo povo deu origem aos atuais judeus; e Israel, no norte, onde o casal governava e cuja capital era Samaria.

No Primeiro Livro dos Reis, na Bíblia, Jezabel é retratada como uma mulher corrupta, que faz os habitantes de Israel adorarem deuses pagãos e ainda induz seu marido Acabe a tomar injustamente as terras de seus súditos. Juízos de valor à parte, o sinete parece mostrar que a rainha de fato era muito influente: ele era usado para ratificar documentos, o que significa que ela podia "despachar" por conta própria em seu palácio.

(G1 Notícias)

quarta-feira, setembro 05, 2007

Colméias de 3 mil anos são descobertas em Israel

Escavações arqueológicas no norte de Israel revelaram evidências de apicultura praticada há 3 mil anos, incluindo restos de antigos favos de mel, cera de abelhas e o que os pesquisadores envolvidos acreditam ser as mais antigas colméias intactas já descobertas. O achado, nas ruínas da cidade de Rehov, inclui 30 colméias intactas datando de cerca de 8900 a.C., disse o arqueólogo Amihai Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele diz que esta é uma evidência sem precedentes da existência da apicultura avançada na Terra Santa em tempos bíblicos.

A apicultura era amplamente praticada na Antiguidade, onde o mel tinha aplicações religiosas e medicinais, além de como alimento, e a cera era usada na fabricação de moldes e como superfície de escrita.

As colméias, de palha e barro cru, têm um orifício em uma extremidade, para permitir a entrada e saída de abelhas, e uma tampa, que dava aos apicultores acesso aos favos.

A Bíblia se refere repetidamente ao território onde hoje está Israel como "terra do leite e do mel", mas acreditava-se que o mel seria um doce feito de tâmaras e figos - não há menção a mel de abelha. Mas a descoberta mostra uma indústria bem desenvolvida de apicultura na área há 3 mil anos.

"Dá para dizer que esta era uma indústria organizada, parte de uma economia organizada, numa cidade ultra-organizada", disse Mazar.

(O Estado de S. Paulo)

sexta-feira, agosto 31, 2007

Desenterrando um império (parte 2)

Quando Henry Sayce afirmou que os heteus do Antigo Testamento eram o mesmo povo que deixou diversos rastros na região da Ásia Menor, muitos dos acadêmicos da época lhe conferiram o título de "o inventor dos hititas". Evidentemente, os "homens de ciência" da época (e de hoje também) achavam simplória demais a opinião de um erudito fundamentada na Bíblia e nas suas pesquisas de campo.

Curiosamente, as fontes egípcias da época registravam informações surpeendentes sobre o assunto. Tutmoses III, importante faraó da 18ª dinastia (Ca. 1450 a.C.), foi forçado a pagar tributo ao povo de Heta. Da mesma forma, vários relevos nos templos e palácios do país dos faraós registravam as importantes vitórias de Ramsés II sobre os Hititas, na famosa Batalha de Kadesh (ilustração acima), na Síria.

Mas não foram apenas os egípcios que travaram batalhas contra esse povo. O rei assírio Tiglat Pileser I (Ca. 1100 a.C.) gloriava-se em seus registros de ter vencido diversos combates na "Terra de Hatti". As mencões a esse povo só desapareceram em 717 a.C., quando Carchemish, uma das principais cidades hititas, foi destruída.

Entre Tutmes III e a destruição de Carchemish há um período de 700 anos. Seria possível a um pequeno império travar poderosas batalhas com grandes potências como Egito e Assíria? Dificilmente!

Hugo Winckler: a pá alemã em Boghazköy

A confirmação da teoria de Sayce veio por meio dos esforços de um arqueólogo alemão. Seu nome, Hugo Winckler (1863-1913). Os trabalhos foram realizados em Boghazköy, a cidade que foi visitada pelo francês Texier, como vimos anteriormente. Se as pesquisas de Texier foram sem sucesso, o mesmo não se pode dizer daquelas feitas por Winckler, em 1906.

As escavações arqueológicas naquela época eram extremamente precárias. A região era extremamente quente durante o dia, e o frio a noite era praticamente da mesma intensidade. O próprio Winckler registrou em seu diário que durante as noites chuvosas ele dormia com um guarda chuva aberto preso a um dos braços, já que sua barraca estava "um pouco" rasgada.

Além de arqueólogo de campo, este acadêmico alemão era também filólogo, um estudioso de línguas antigas. Os tabletes cuneiformes que foram encontrados em Boghazköy estavam escritos em acadiano, a lingua diplomática das civilizações do antigo oriente médio. Winckler não tinha muitas dificuldades para ler e traduzir esses tabletes. Era comum alguns europeus notáveis terem a habilidade de traduzir textos de civilizações milenares. (Jean François Champolion, por exemplo, aos 16 anos de idade já sabia oito línguas!)

Foi através desse conhecimento que uma de suas principais descobertas veio ao mundo. Certa ocasião, um desses tabletes chegou às mãos dele. Ao começar a tradução, ele se lembrou de uma antiga inscrição egípcia no templo de Karnak, onde Ramsés II selava um tratado (aliança) com o rei Hatusilis III, do país de Hatti. Na verdade, o que Winckler tinha em mão era uma das cartas trocadas entre o próprio Ramsés II com o monarca hitita, discutindo o tratado.

Conclusão: Boghazköy não era uma mera cidade, mas a capital do reino do hititas (na foto ao lado, vê-se as ruínas de Hattusas, atual Boghazköy). Na antiguidade, as correspondências reais ficavam no palácio do rei, que por sua vez ficava na capital do império. No tradução do texto, o antigo nome da capital era Hattusas.
Apesar de estar sendo bem-sucedido, o trabalho foi interrompido por falta de recursos. Um fato interessante nesta história toda é que Winckler era anti-semita, e foi exatamente um banqueiro judeu chamado James Simon que patrocinou as escavações posteriores em Hattusas.

E a Bíblia?

Qual a relevância desses achados para a Bíblia? Quando estudamos o texto do tratado (aliança) entre Ramsés II e Hattusilis III, percebemos que a estrutura é praticamente a mesma daquela encontrada nas alianças registradas no Pentateuco. Uma vez que Ramsés II viveu em meados de 1300 a.C., e a tradição bíblica indica que Moisés escreveu os cinco primeiros livros da Bíblia por volta da mesma época (Ca. 1400 a.C.), somos inclinados a pensar que provavelmente a primeira parte da Bíblia provém da mesma época, não uma época posterior, como querem alguns.

No próximo artigo, examinaremos essa informação comparando a estrutura bíblica com aquela que está no templo de Karnak e que foi descoberta num pequeno tablete por Winckler.

Luiz Gustavo S. Assis, aluno do 4º ano de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Desenterrando um império (parte 1)

Você consegue imaginar um império tão poderoso e extenso como os egípcios desaparecendo na história e deixando poucos rastros arqueológicos? Por mais estranho que pareça, isso era tão possível que aconteceu. Em 1871, o que se conhecia a respeito dos hititas poderia ser sumarizado em sete linhas, como o fez a enciclopédia germânica Neus Konversationslexicon. Na realidade, o trabalho feito pelo autor do verbete “hititas” foi simplesmente o de juntar as referências esparsas encontradas nas páginas do Antigo Testamento e publicá-las.

Quem eram os hititas? Qual a sua relação com o relato bíblico? No que as descobertas envolvendo esse povo ajudam para a fé nas Escrituras Sagradas? Nesta série de artigos, apresentaremos de forma resumida o que a arqueologia bíblica tem a dizer sobre um dos maiores impérios da antiguidade.

Charles Texier: o ponta-pé inicial

Um nome importante envolvendo o estudo da hititologia é o do francês Charles-Felix-Marie Texier, que por volta de 1834 esteve no norte da Turquia, mais especificamente numa aldeia em Boghazköy. Ao que parece, ele foi o pioneiro em estudos naquela região. Próximo dali Texier se deparou com as ruínas de uma cidade, como Atenas no seu apogeu. A intuição era de que sem dúvida algum grande povo habitou ali passado. Um nativo da aldeia o levou até o lugar chamado Yazilikaya (rocha com inscrições), e foi ali que o pesquisador francês pôde ver os inumeráveis relevos de caráter litúrgico. Além disso, o local estava repleto de sinais semelhantes aos hieróglifos egípcios. Sua expedição, porém, foi sem sucesso na identificação das ruínas e dos sinais.

Pesquisadores alemães e franceses visitaram a região da Ásia Menor e ofereceram excelentes contribuições para os trabalhos de Texier. Ponto decisivo nesta história foram as chamadas “Pedras de Hamath”. Os moradores do local não permitiam qualquer contato com tais pedras, acreditando no seu caráter sobrenatural. É nesse ponto que entra a figura de William Wright. Ele já conhecia os objetos e conseguiu permissão do governo para aprofundar seus estudos utilizando-os. Texier conhecia as peças, mas não sabia o que eram. Em contra-partida, Wright tinha as inscrições, mas não sabia como traduzi-las.

Em 1870, W. H. Skeene e G. Smith, pesquisadores do Museu Britânico, encontraram as ruínas de Carchemish, na margem direita do Eufrates. Para surpresa deles, as imagens desenterradas eram semelhantes àquelas que Texier vira e as inscrições eram idênticas às que Wright tinha em mãos. Não apenas isso, mas alguns selos com a mesma escrita foram encontrados em Ismirna, na costa da Ásia Menor. Em outras palavras, uma escrita unificada de um povo unificado que habitou num vasto território.

Archibald Henry Sayce: a ousadia de um acadêmico

Foi nesse contexto que A. Henry Sayce, pesquisador oriental de 34 anos, afirmou, com base em suas pesquisas de campo e em passagens do Antigo Testamento, que todo esse rastro histórico pertencia aos antigos hititas, os heteus das páginas sagradas. A afirmação foi, é claro, recebida com descrédito. Como um livro religioso poderia conter dados históricos confiáveis? A informação bíblica parecia absurda demais. Em 2 Reis 7:6, por exemplo, os reis hititas são mencionados juntamente com os monarcas egípcios e, de forma curiosa, eles são mencionados antes que desses faraós.

Essa dúvida foi solucionada nos anos seguintes. A pá dos arqueólogos pôde revelar a existência de um poderoso império semelhante ao egípcio e ao babilônico, por volta do II milênio a.C., chamado de Hatti nos textos assírios, de Heta nas inscrições hieroglíficas e de heteus no Antigo Testamento.

No próximo artigo, veremos como se deram as descobertas que confirmaram a historicidade da Bíblia envolvendo os até então anônimos hititas.

Luiz Gustavo S. Assis, aluno do 4º ano de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.

quinta-feira, julho 12, 2007

Encontrada prova de general citado na Bíblia

Com a exceção de reis antigos, é pouco freqüente encontrar provas da existência de personagens que aparecem na Bíblia [na verdade, há muitos achados que confirmam a existência de vários personagens bíblicos], mas um pesquisador encontrou, no Museu Britânico, vestígios do general babilônio Nebo-Sarsequim, citado no livro sagrado do cristianismo [e do judaísmo].

O especialista na civilização assíria Michael Jursa descobriu uma pequena tabuleta de argila na qual o general é citado, informou hoje o Museu Britânico. Segundo a Bíblia, ele tomou parte no ataque a Jerusalém.

A tabuleta data de 595 a.C. e trata de uma oferenda de ouro apresentada por Sarsequim no templo principal da Babilônia, provavelmente em honra aos deuses. O objeto, gravado com escrita cuneiforme, a mais antiga conhecida pelo homem, é anterior à destruição de Jerusalém pelo Império da Babilônia, em 587 a.C.

De acordo com o capítulo 39 do Livro de Jeremias, Sarsequim esteve ao lado de Nabucodonosor, o rei de Babilônia, no ataque a Jerusalém.

Jursa, catedrático associado da Universidade de Viena, tem estudado tabuletas no Museu Britânico desde 1991. "Ler tabuletas babilônicas é, às vezes, muito trabalhoso, mas também muito gratificante", disse o especialista, em comunicado divulgado pelo museu.

Atualmente, apenas alguns estudiosos no mundo todo são capazes de decifrar a escrita cuneiforme, utilizada no Oriente Médio entre 3.200 a.C. e o século II d.C.

O Museu Britânico conta com mais de 100 mil tabuletas com inscrições, que são revisadas pelos especialistas.

(Terra)

Leia também: Museum’s tablet lends new weight to Biblical truth

A precisão da profecia bíblica

Sem dúvida, uma das maiores razões que temos para crer é o fato de Deus ter Se revelado numa coleção de livros especiais chamados Bíblia. Mas será que ela é mesmo confiável? Será que um livro tão antigo tem algo a dizer para as pessoas que vivem no século 21? Um dos aspectos surpreendentes da Bíblia são suas profecias perfeitamente cumpridas. Vamos dar apenas um exemplo entre tantos: a destruição anunciada da cidade de Tiro.

Tiro era uma importante cidade situada em uma ilha que hoje está ligada ao continente por meio de um aterro. No tempo de Ezequiel (séc. VI a.C.), ela era o mais importante porto fenício. Jamais havia sido dominada por um rei estrangeiro. Nem Senaqueribe ou Assurbanipal, os maiores conquistadores da Assíria, conseguiram, de fato, anexá-la ao seu vasto império. Dizem os historiadores que a posição geográfica de Tiro era o que a tornava uma fortaleza praticamente inexpugnável. Não é por menos que o nome Tiro significa “rocha” ou “muralha petrificada”.

Contrariando, no entanto, essa história de invencibilidade, o profeta Ezequiel revelou que Tiro seria capturada por um rei babilônico chamado Nabucodonosor (leia o capítulo 26, que foi escrito no ano 590 a.C.). Pelos registros históricos, isso se cumpriu quase literalmente. Quando a Babilônia tornou-se o grande opressor do Oriente Médio e Próximo, Tiro ainda resistiu por algum tempo aos ataques do exército inimigo. Mas o cerco prolongado logo fez com que a cidade acabasse caindo nas mãos de Nabucodonosor, que passou a ser o seu novo governante, em 574 a.C.

Há, porém, um detalhe intrigante na profecia. Se você ler os versos 4 e 5 do mesmo capítulo, notará que ali está escrito que a cidade seria completamente destruída. Seus muros e torres cairiam e os pescadores estenderiam suas redes para secar em cima dos escombros que haveriam de sobrar. Num lado, parece que essa parte do oráculo teria falhado, pois, embora Nabucodonosor tenha invadido a cidade, ele ainda a manteve como um importante porto durante o seu governo. E assim Tiro permaneceu ainda poderosa por mais uns 250 anos.

Até que surge em cena o império macedônico e com ele Alexandre, o Grande, que veio terminar o que Nabudocodonor havia começado. Construindo um aterro que ia do continente à ilha, Alexandre e seus homens atingiram os portões da cidade. O povo, no entanto, desdenhou do pequeno exército, confiando novamente na firmeza de seus muros e na segurança dos portões. Porém, não demorou muito para que os muros fossem destruídos e a cidade fosse completamente arrasada. O resultado disso? Os macedônios literalmente fizeram o que está escrito no verso 12. Roubaram as riquezas e mercadorias e ainda derrubaram as muralhas e casas luxuosas. O que sobrou de pedras e entulhos, eles jogaram no mar, aumentando ainda mais o aterro construído.

Até hoje existe esse aterro feito por Alexandre e seus homens, unindo a velha ilha ao continente. O local tornou-se uma desolada península que abriga pequenas vilas de pescadores. Aliás, para os habitantes da região a pesca ainda é uma das grandes fontes de renda. Por isso, é comum encontrar nas encostas do aterro, pescadores que ali põem suas redes para secar ao sol – exatamente como havia sido profetizado há mais de 2.500 anos!

Assim, fora as partes encrostadas no aterro, pouco ou quase nada existe da antiga Tiro. Até mesmo os arqueólogos têm dificuldades de escavar as ruínas do que sobrou da cidade, pois seus alicerces encontram-se há milênios soterrados embaixo de outras construções do período grego, romano, bizantino e atual. De fato, Ezequiel sabia o que estava dizendo! Pena que Tiro não deu importância à solene advertência.

(Com informações do CD-ROM “História da Vida”, v. 3, de Rodrigo Silva)

terça-feira, julho 03, 2007

Laquis: a segunda mais importante

No ano 701 a.C., o exército assírio, o mais poderoso e terrível de sua época, invadiu a Palestina, dando início a um dos mais importantes acontecimentos da história bíblica (1 Crônicas 32:1-5, 30; 2 Reis 18:13-37; 2 Crônicas 32:6-19, 26; Miquéias 1:13-16; Isaías 36). Era um exército numeroso, forte, organizado e extremamente cruel. À sua frente ia o próprio rei Senaqueribe, que precisava saquear as riquezas de outras nações para sustentar a grandiosidade de seu império e o luxo de Nínive, sua capital. Por onde passavam, os assírios deixavam um rastro de destruição e milhares de cadáveres. Cidade após cidade, fortaleza após fortaleza foram sendo rendidas a seus pés, algumas destruídas, outras queimadas, todas dominadas. Por fim, Senaqueribe conquistou a segunda mais importante cidade da Palestina: Laquis.

Laquis era uma cidade tão importante que, ao voltar para Nínive, Senaqueribe mandou colocar na parede do salão principal de seu imenso palácio um grande painel em alto relevo comemorando essa conquista. Esse painel foi descoberto por arqueólogos, em meados do Século XIX, ao desenterrarem o fantástico palácio de Senaqueribe, que tinha nada menos que 80 grandes cômodos, ocupando uma área de 200 metros de largura por 210 metros de comprimento! Hoje, esse painel está exposto no Museu Britânico, em Londres.

Numa visão panorâmica, rica em detalhes, o painel retrata as cenas da batalha que conquistou Laquis. Uma rampa de terra, construída pelos assírios, facilita o acesso dos guerreiros aos muros que protegiam a cidade. O exército avança de modo ordenado: grupos de arqueiros, flanqueados pela infantaria, empurrando torres de madeira e carros com aríetes para derrubar os muros. Os suprimentos vêm logo atrás, carregados por camelos. Sobre os muros, os defensores de Laquis portam arcos e fundas para lançar pedras. Os muros da cidade, não resistindo ao ataque, se rompem lançando grandes pedras para todos os lados. Algumas cenas mostram seus habitantes sendo levados cativos, alguns torturados, seus bens saqueados, e o governador da cidade ajoelhado diante do rei assírio. Por fim, Senaqueribe ateou fogo à cidade. Escavações arqueológicas realizadas em Laquis revelaram uma camada de cinzas, dessa época, de cerca de 50 cm de espessura. Os arqueólogos encontraram uma vala comum com cerca de 1.500 esqueletos, principalmente de mulheres e crianças. Milhares de outras pessoas devem ter morrido nos combates.

A partir de Laquis, onde estabeleceu seu quartel general, o arrogante Senaqueribe enviou generais a Jerusalém com a mensagem: “Não sejam tolos! Rendam-se! Deus não poderá livrá-los das mãos do rei da Assíria!” (2 Reis 18:17-35). A resposta de Deus, por meio do profeta Isaías, veio pronta: “A quem afrontaste e blasfemaste? Contra o Santo de Israel! Portanto, assim diz o Senhor acerca do rei da Assíria: Não entrará nesta cidade!” (2 Reis 19:20-34).

E, de fato, não entrou! Uma terrível praga dizimou o exército assírio e obrigou Senaqueribe a voltar para sua terra. Nas paredes de seu palácio, ele pôde comemorar a conquista apenas da segunda cidade mais importante, não da primeira!

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

sexta-feira, maio 25, 2007

Sodoma: salgada demais para ser real?

São muitas as histórias do Antigo Testamento (AT) que soam mais como fábulas do que como realidade. Um exemplo disso é o relato da cidade de Sodoma, uma das cinco cidades da campina do Jordão que Ló escolheu para habitar (Gn 13:10-13). É importante notar que boa parte das vezes em que ela é mencionada no texto uma nota negativa a acompanha (Gn 13:13; 18:20; 19:5, etc.), e todas elas se referindo a problemas de comportamento moral e sexual. Isso é tão verdade que na língua portuguesa a palavra "sodomia" traz a idéia de aberração sexual. Essa palavra veio do nome Sodoma.

Os profetas que se levantaram ao longo da história do povo de Israel viam a história de Sodoma como real (Am 4:11), e também o próprio Jesus mencionou algo a respeito dela (Mt 10:15). Qual o valor de uma lenda numa sentença de juízo? Em outras palavras, que diferença faria a história dos três porquinhos na repreensão de um pai a seu filho de 25 anos?

Os autores bíblicos criam nessa narrativa. Mas será que só a Bíblia menciona uma cidade que foi destruída por causa do seu pecado? Os achados arqueológicos sugerem algo sobre esse tema? Há evidências de uma cidade chamada Sodoma fora das Escrituras? A resposta é sim, existe!

Em meados dos anos 1960, G. Pettinato e P. Matthiae foram os responsáveis pela descoberta da antiga cidade de Ebla (Tell Mardikh), a principal cidade síria do III milênio a.C. Como toda grande cidade do passado, Ebla possuía uma vasta biblioteca de aproximadamente 17 mil tabletes cuneiformes. Um desses tabletes foi publicado por Pettinato em 1976, e revelou algo surpreendente. A inscrição falava sobre cinco cidades: Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar. A mesma seqüência que aparece em Gênesis 14:2 e 8.

Ebla era um grande centro comercial, mantinha relações econômicas com diversas cidades do antigo Oriente Médio e foi destruída pelo rei Naramsin de Akkad, por volta de 2300 a.C. Assim, fica demonstrado que existia uma cidade chamada Sodoma no mesmo período em que a Bíblia a situa.

E quanto à sua localização geográfica? As Escrituras fornecem algumas pistas sobre sua posição. Em Gênesis 14:3, lemos que Sodoma estava no “vale de Sidim (que é o mar salgado)”, provavelmente o Mar Morto. Em 1924, William F. Albright e M. Kyle, grandes nomes da Arqueologia, visitaram uma região nessas proximidades chamada em árabe de Bab-Edh-Dhra. Ali eles encontraram vários restos de um santuário cananeu que datava de 2800-1800 a.C. Quarenta anos depois, Paul Lapp, juntamente com a sua equipe, realizou a primeira escavação e encontrou o cemitério da cidade que ficava a um quilômetro de distância do centro. Foi nessa época que Lapp e Albright relacionaram esse sítio arqueológico com a bíblica Sodoma e sugeriram a idéia de que o local era no passado grande centro religioso das cidades da planície. Um detalhe é bem sugestivo: na região da cidade foram encontradas várias camadas de cinza com alguns metros de espessura!

No cemitério, a evidência é mais impressionante ainda. Existia um estilo de sepultamento na cidade em que uma cova muito profunda era cavada e vários corpos eram ali depositados com os seus pertences (numa tumba foram colocadas 250 pessoas!); mas no período da destruição o estilo era outro. Uma casa mortuária era colocada sobre o corpo, mais ou menos como as capelinhas que vemos em alguns cemitérios atuais, mas logicamente bem menores. Todas essas casas mortuárias estavam queimadas e a primeira sugestão foi de que o fogo começou dentro e se espalhou para fora. Porém, estudos avançados foram feitos e constataram que o fogo começou no telhado que cedeu e se espalhou por dentro. Como explicar isso? Vulcão? Incêndio? Um conquistador colocou fogo no local? Nenhuma dessas respostas é satisfatória. Como um incêndio começaria num cemitério que ficava a um quilômetro da cidade? Por que um conquistador colocaria fogo num cemitério?

Avaliemos a situação: na cidade temos camadas de cinza e no cemitério cinza e marcas de fogo. Bryant Wood, arqueólogo cristão da atualidade, afirmou que a Arqueologia não tem respostas para esse fenômeno. Por outro lado, a Bíblia fornece a resposta: foi Deus quem destruiu essas cidades com fogo e enxofre (Gn 19:23-29).

Mas por que um Deus de amor (1Jo 4:8) destruiria uma cidade de forma tão violenta? A resposta pode ser encontrada em Judas 7. Ali lemos que Sodoma foi destruída por causa da sua prostituição. Em grego, a palavra é porneia, que deu origem ao nosso vocábulo "pornografia". A idéia básica de porneia é toda e qualquer relação sexual, dentro ou fora do casamento, não aprovada por Deus. Adultério, fornicação, masturbação é apenas uma pequena amostra de uma vasta lista de degradações. Quando olhamos para a triste história de Sodoma, vemos um Deus que é amor, mas também é justo. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Que triste notícia para aqueles que querem continuar no pecado.

Luiz Gustavo Assis é aluno do 4º ano de Teologia na Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho-SP.

terça-feira, maio 15, 2007

Usos e costumes patriarcais

Donald Redford, John Van Seters, Thomas L. Thompson, importantes nomes no estudo do Antigo Testamento (AT), afirmam com veemência que as histórias do período patriarcal são na realidade criações fictícias produzidas no exílio babilônico e não possuem valor histórico. Esses são alguns dos autores utilizados pelas revistas parciais em suas matérias sobre o Pentateuco, sendo que boa parte deles estão fundamentados nos trabalhos do alemão Julius Welhausen (1844-1918).

Um dos principais argumentos utilizados na defesa de uma data recente para a composição do material patriarcal (VII-V a.C) é a menção de camelos nas histórias de Abraão (Gn. 12:46), Isaque (24:10-11), Jacó (31:17) e José (37:25). Um dos maiores nomes da arqueologia no século passado, William F. Albright, afirmou que o uso de camelos no Gênesis deve ser considerado como um anacronismo. Um ótimo exemplo de anacronismo é o que aprendemos na escola: “Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil em 1500”, mas o Brasil não se chamava Brasil em 1500! Em outras palavras, o que Albright disse é que a menção de camelos no texto bíblico é atribuir a ele algo que não é necessariamente real. Além dele, Speiser, autor de um excelente comentário sobre o primeiro livro do AT (The Anchor Bible), disse que a menção de camelos é no mínimo suspeita.

Porém, a arqueologia tem trazido à luz diversos documentos que mencionam a existência e domesticação de camelos no III e principalmente no II milênio a.C., a época em que a Bíblia situa a existência dos patriarcas. Um texto sumeriano do ano 2000 a.C. encontrado em Nippur, por exemplo, menciona não só a existência, mas também o leite de camelo. Ora, para se obter leite de um animal, ele deve ser domesticado! Foi encontrada também em Byblos a figura incompleta de um camelo ajoelhado datada entre os séculos XIX e XVIII a.C. Além desses exemplos, uma lista léxica mesopotâmica também menciona o animal, bem como sua domesticação. Sua composição deve ter ocorrido entre 2000 e 1700 a.C.

Num dos escombros das casas da antiga cidade mesopotâmica chamada Mari, foram encontrados ossos de camelos que datavam entre os séculos XV-XIV a.C. O arqueólogo francês André Parrot foi o responsável pela escavação. Mas as evidências não param por aí.

O arqueólogo adventista Randall Younker, responsável pelo Departamento de Arqueologia Bíblica da Andrews University, menciona num trabalho não publicado uma representação em ouro de um camelo ajoelhado encontrado nas ruínas de Ur dos caldeus, a cidade de Abraão, fabricado no período da III dinastia da cidade (2050 a.C). Não só isso, mas também um desenho esculpido na rocha de um homem guiando um camelo por uma corda, em Assuã, no Egito. O texto que acompanha sugere a data 2300 a.C.

A menção de camelos por parte do escritor bíblico não deve ser considerado como as histórias de Alladin com seus camelos na Arábia. Elas são atestadas pela história e pela arqueologia.

A mesopotâmia é um cenário fundamental na narrativa de Gênesis. Foi ali que Abraão viveu; a esposa de Isaque era natural de lá; e Jacó morou ali por muitos anos. Duas das descobertas mais esclarecedoras para uma melhor compreensão dos costumes patriarcais foram a da biblioteca da cidade de Nuzi, com aproximadamente 20 mil tabletes e a da cidade de Mari, com seus 25 mil documentos. Um caso similar ao da adoção do servo Eliézer feita por Abraão, por este não ter filhos, pode ser encontrada num dos textos de Nuzi. Se mais tarde o casal tivesse um filho legítimo, aquele que foi adotado perderia seu status de herdeiro. Foi exatamente o que aconteceu com Eliézer no nascimento de Isaque.

Uma das principais histórias do Gênesis é aquela em que Esaú troca sua primogenitura por um prato de lentilha preparado por Jacó. Práticas assim também são conhecidas em Nuzi, onde vemos um certo Tupkitilla trocando sua herança por três ovelhas do seu irmão! A curiosa atitude de Raquel em roubar os ”ídolos do lar“ (Gn 31:19) é atestada nesses tabletes. Num deles lemos a história de um homem chamado Nashwi que adotou um jovem Wullu. O texto continua dizendo que quando seu pai adotivo morreu, ele se tornou proprietário das suas terras, isso porque ele tomou para si os ídolos do lar que lhe pertenciam. Por que Raquel roubou os ídolos do lar de seu pai? Para se tornar dona de todas as propriedades dele!

O ambiente histórico da narrativa bíblica patriarcal é claramente confirmado pelas descobertas arqueológicas e qualquer tentativa de negá-la pode ser comparada a um homem que olha para um computador e insiste em dizer que é uma máquina de escrever!

Luiz Gustavo Assis é aluno do 4º ano de Teologia da Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho, SP.

quinta-feira, maio 10, 2007

Pentateuco: historicamente confiável?

Recentemente, a revista Aventuras na História publicou matéria sobre a Arca da Aliança com título “O último mistério”. Tiago Cordeiro, autor do artigo, em determinado momento afirma que “a Torah (Pentateuco) foi elaborada provavelmente entre os séculos VII e V a.C., muito tempo depois dos eventos narrados”. O assunto não pára por aí. Num curso de egiptologia numa renomada faculdade do Brasil, o professor disse que comparava o Antigo Testamento (AT) a uma brincadeira de telefone sem fio! Por outro lado, quando lemos esta porção bíblica, o Pentateuco, encontramos algumas informações históricas dignas confirmadas pela arqueologia e que ajudam a datá-la em determinado momento da história.

Vamos por partes. A língua em que foi escrito o pentateuco foi o hebraico. Algumas palavras usadas pelo seu autor são claramente egípcias. O termo "selo", por exemplo, que aparece em Gênesis 41:42 em hebraico é hotam, já em egípcio é hetem. A palavra hebraica, na passagem referida acima, para linho fino na língua do AT é shesh e em egípcio é shash. Não são apenas esses casos, existem outros mais. É importante mencionarmos que esse intercâmbio entre essas duas línguas não aparece nos outros livros do AT.

A evidência não para por aí. Diversos nomes mencionados na narrativa hebraica são claramente egípcios. O próprio nome Moisés é derivado do verbo egípcio mase (nascer). O nome Merari (Nm 3:17) vem da palavra egípcia mer, que significa amado. Hofni e Finéias também são nomes egípcios, sendo este último relacionado com um sacerdote no país dos faraós.

Somos levados a duas conclusões até agora: (1) o autor do pentateuco conhecia bem a língua egípcia e, segundo a tradição judaico-cristã, esse autor foi Moisés (cf. At 7:22; (2) os nomes egípcios entre o povo de Israel sugerem que eles, os israelitas, estiveram ali em algum período do passado. Se não fosse assim, como esses nomes surgiriam naquela nação? Curiosamente, o apogeu da língua egípcia se deu na metade do II milênio a.C., entre os séculos XVI e XIV a.C., não em torno dos séculos VII – V a.C. Se os cinco primeiro livros da Bíblia foram escritos nessa época, por que existe neles similaridade de nomes e palavras egípcias?

Diversos outros nomes importantes para o início da nação israelita são bem documentados em fontes arqueológicas. O nome Jacó, por exemplo, aparece em conexão com o nome de um chefe hykso (Ya‘qub-el), num texto do século XIII a.C. encontrado em Chagar-Bazar, na Alta Mesopotâmia. Já o nome Abraão, o pai dos patriarcas, surge entre os mais de 15 mil tabletes encontrados nas ruínas da antiga cidade de Ebla, na Síria. A grafia Aba-am-ra-am é muito próxima do hebraico ‘avraham. Os tabletes encontrados ali por Paolo Mathiae e G. Petinatto são datados seguramente entre 2500 e 2000 a.C.

O nome Terah, o mesmo nome do pai de Abraão, aparece em textos assírios do fim do III milênio a.C., com a grafia Til Turakhi. O nome de alguns dos filhos de Jacó, como por exemplo Benjamin, possui correspondente acadiano (binu-yamin, povos do sul) e é também atestado no início do II milêncio a.C. Já Aser e Issacar são encontrados numa lista egípcia do XVIII século a.C. De forma significativa, esses nomes diminuem sua freqüência ou desaparecem por volta dos séculos VII – V a.C. Isso é no mínimo intrigante!

Diante dessas evidências, somos levados a considerar alguns pontos: (1) Os nomes dos patriarcas bíblicos mencionados no livro de Gênesis são atestados em diversos documentos antigos, mas isso não prova que o Abraão e o Jacó bíblicos existiram; (2) esses nomes eram comuns na época em que o AT menciona a existência dessas pessoas, não nos séculos VII - V a.C. Se o AT é comparado ao telefone sem fio, pelo menos nesse ponto a brincadeira não funcionou e não teve graça, já que seu conteúdo chegou idêntico para nós!

Esse é o limite da arqueologia bíblica. Ela consegue recriar um pano de fundo histórico coerente com aquele que a Bíblia narra. Por outro lado, ela não prova a ocorrência de fatos que demandam fé. Uma pergunta porém não quer calar: Se o ambiente histórico do AT é digno de confiança, por que os eventos que relacionam o homem com seu Criador não seriam? Algo a ser pensar.

Luiz Gustavo Assis é aluno do 4º ano de Teologia na Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho.

terça-feira, maio 08, 2007

O silêncio dos opressores

Relevos mostrando a destuição de Laquis
Milagre! Essa foi e ainda é a palavra usada pelos comentaristas esportivos ao se referirem à incrível defesa de Gordon Banks, goleiro da seleção inglesa, na cabeçada de Pelé na copa de 70, no México. Costumamos usar essa palavra para descrever grandes coisas que acontecem no nosso dia-a-dia. E o que dizer dos milagres bíblicos?

Bom, esse já é um assunto contraditório. Ninguém seria tão tolo em acreditar na ocorrência de milagres em pleno século XXI! Essa opinião fundamenta-se no seguinte pressuposto: Deus não interage com a humanidade. A Bíblia, por outro lado, apresenta algo diferente. Conhecemos bem os milagres feitos por Jesus que estão registrados nos quatro evangelhos, mas nos surpreendemos quando lemos o registro de vários feitos miraculosos registrados nos Antigo Testamento.

Uma das histórias mais impressionantes que lemos nas páginas da Bíblia é a do cerco de Senaqueribe, rei do Império Assírio, em Jerusalém, que naquela ocasião era regida por Ezequias (2Rs 18:13–19:37; 2Cr 32:1-23; Is 36:1-37, 38). Os dois personagens tiveram educação bem semelhante. O pai de Senaqueribe era ninguém menos que Sargão II, o Dur Sharrukin dos textos assírios, aquele que destruiu Samaria, capital do reino do norte em 722 a.C. Já o pai de Ezequias era o ímpio rei Acaz. O nome Acaz é a forma abreviada do nome Acazias. A diferença é que o primeiro não tem o elemento teofórico comum nos nomes hebraicos (ex.: Daniel = Deus é meu juiz). Provavelmente, o pecado reinava tanto na vida desse rei que ele retirou o elemento divino do próprio nome!

Os assírios, nessa ocasião (701 a.C., cf. Is 36:1), eram os garotos mais rebeldes do bairro “Antigo Oriente Médio”. Senaqueribe já tinha conquistado 46 cidades de Judá, inclusive a conhecida cidade de Laquis. Os relevos ilustrando a destruição dessa cidade eram uma das decorações do palácio do monarca assírio. Um dos seus oficiais, Rabsaque (do acadiano Rab sikkati = dignitário), que não é um nome mas sim uma função, dirigiu palavras duras contra os porta-vozes de Ezequias. Deus mesmo entregou a capital de Judá nas mãos dos assírios (Is 36:10); nenhum deus das outras nações conquistadas as livrou das mãos dos seus inimigos e a mesma coisa aconteceria com o reino judeu (Is 36:18-20). Em outras palavras, não havia esperança.

Porém, o rei de Judá recorreu o profeta Isaías e este lhe deu a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Não entrará nesta cidade, nem lançará nela flecha alguma [...], pelo caminho que ele [Senaqueribe] vier, por esse voltará, mas nesta cidade não entrará, diz o Senhor” (Is 37:33 e 34).

Em 1830, nas ruínas da antiga capital assíria chamada Nínive, Taylor encontrou um prisma sexagesimal de quase 40 cm, escrito em cuneiforme acadiano, que, diga-se de passagem, era uma língua extremamente complexa, com aproximadamente 5 mil sinais! Nesse documento arqueológico, que é o mais bem preservado dos documentos assírios, temos a seguinte inscrição: “Quanto a Ezequias do país de Judá, que não se tinha submetido ao meu jugo, sitiei e conquistei 46 cidades que lhe pertenciam. [...] Quanto a ele, encerrei-o em Jerusalém, sua cidade real, como um pássaro na gaiola...” Essa peça está hoje no Museu Britânico, em Londres.

Dois pontos são importantes na sentença. Primeiro, o nome de Ezequias é mencionado. Segundo, o texto fala que Senaqueribe cercou Jerusalém, mas que ele não a conquistou como fez com as outras cidades referidas nos seus anais. Algo aconteceu e houve silêncio por parte dos opressores assírios. O documento arqueológico não menciona nada mais, apenas que Jerusalém não foi adicionada na sala de troféus do Império Assírio.

No livro do profeta Isaias, lemos que o anjo do Senhor feriu 185 mil soldados do exército assírio numa madrugada, e na manhã seguinte tudo o que restava daquela poderosa milícia eram apenas cadáveres (37:36, 37). Senaqueribe voltou para Nínive, sua capital, e Jerusalém foi libertada milagrosamente.

A arqueologia não provou e nunca provará o milagre sobrenatural, mas de uma coisa temos certeza: quando lemos “entre as rachaduras” dos achados arqueológicos, podemos, sim, ver a mão poderosa de um Deus que agiu de forma poderosa no passado, que age no presente e agirá no futuro daqueles que o desejarem.

Luiz Gustavo Assis é aluno do 4º ano de Teologia na Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho, SP.

sexta-feira, abril 20, 2007

Sir William Ramsay: o ex-cético

Lucas existiu e escreveu o livro de Atos com precisão histórica e geográfica. A primeira sentença pode ser verdadeira, mas a segunda está longe de ser realidade. Isso se deve ao fato de que esse livro foi escrito no II século d.C., ou seja, bem distante dos eventos do cristianismo do século anterior que ele pretendia narrar.

O principal nome desta visão foi Ferdinand Christian Baur, teólogo da Universidade de Tübingen no século 18. Baseado na filosofia de Hegel (tese, antítese e síntese), ele desenvolveu toda uma estrutura dos primórdios do cristianismo. Para Baur, Pedro representava a ala judaica do cristianismo (tese), Paulo, a gentílica (antítese), Atos, a igreja unida (síntese), algo que só foi possível no II século. Toda essa estrutura do seu pensamento estava fundamentada na Redaktiongeschichte (a história da redação), um movimento de pensamento alemão que afirmava que o livro de Atos e também os evangelhos foram escritos mais de uma perspectiva teológica do que histórica.

Foi nesse contexto que surgiu a figura de Sir William Ramsay, um adepto de tais idéias que viajou para a Ásia Menor, as terras das viagens missionárias de Paulo, com a intenção de provar os pressupostos de Baur e da Redaktiongeschichte. Porém, todas as suas pesquisas arqueológicas mostraram o contrário. A obra de Lucas é extremamente precisa quando se refere aos costumes, lugares e personagens do I século d.C. Ramsay, ao longo de seus trabalhos, considerou o livro de Atos como autoridade em assuntos como topografia, antiguidades e sociedade da Ásia Menor e como sendo um aliado útil em escavações obscuras e difíceis.[1]

Uma de suas contribuições para a historicidade do livro foram seus estudos sobre a grande fome nos dias do imperador Cláudio (At 11:27-30). O pano de fundo do texto bíblico segundo alguns não é histórico, é improvável e nem corroborado por outras evidências.[2] Ramsay encontrou diversas fontes sugestivas em conformidade com a passagem de Atos. Diversos historiadores mencionam algo sobre a escassez de alimentos nesse período de Roma. Suetônio, historiador romano do II século, menciona uma assiduae sterelitates (fome intensa) durante o império de Cláudio (41-54 d.C.). Tácito menciona duas fomes na capital do Império e Eusébio de Cesárea fala de uma fome na Grécia e provavelmente na Ásia Menor.[3] Todas essas informações nos levam a crer que o reinado de Cláudio foi marcado por más colheitas que ocasionaram ausência de alimento em diversas partes do Império. Curiosamente, Atos 12, o capítulo seguinte, contém fatos que acontecerem em 44 d.C. (a perseguição e morte de Herodes Agripa I), ou seja, durante o período referido acima.

Hoje temos um fato bastante irônico. Eruditos do Novo Testamento negam a historicidade de Atos 4 e historiadores da antiguidade consideram as narrativas desse livro como historicamente exatas. B. H. Warmington, professor de História Antiga na Universidade de Bristol, afirmou que “quando se refere a aspectos da lei e o governo romano, os historiadores têm considerado como fontes confiáveis”. Para A. N. Sherwin-White, um dos maiores eruditos em historia romana, “a confirmação da historicidade de Atos é abundante e qualquer tentativa de nega-la é absurda”.[5]

O escritor com maior número de livros no Novo Testamento é sem dúvida alguma Paulo. Lucas, ao contrario, escreveu apenas dois livros, o evangelho que leva o seu nome e os Acta Apostolorum (Atos dos Apóstolos), mas somente estes dois ocupam mais de 30% do segundo cânon. Na realidade, algumas evidências nos levam a crer que o Evangelho e Atos são na realidade uma única obra, dividida em dois volumes.

O que motivou Lucas a escrever sua obra? Logo no prólogo do seu evangelho, ele a justifica (1:1-4). Ele diz que sua “acurada investigação” (v. 3) era destinada para Teófilo. O autor o chama de “excelentíssimo” (kratiste em grego) e ele devia ser alguém muito importante, já que esse termo é usado outras duas vezes, para Félix (23:26) e Festo, e ambos possuíam cargos extremamente importantes na política da época. Não só isso, mas o texto da obra se assemelha muito a dossiês jurídicos do I século. Provavelmente Teófilo tenha sido um advogado que estaria defendendo o apóstolo Paulo perante o júri romano.

Em favor dessa opinião, temos três detalhes importantes: 1) Em Lucas 1:3 ele usa a palavra grega akribos, minucioso em detalhes, tinha de ser algo preciso; 2) a partir de Atos 13 o foco é quase totalmente voltado para Paulo; e 3) o segundo volume da obra termina com Paulo na prisão.

Se Lucas tinha interesse em ser preciso em todos os detalhes históricos e geográficos de sua obra, por que ele não seria também com os assuntos religiosos? Se sua mensagem histórica é digna de crédito, é de se esperar o mesmo sobre as boas-novas da salvação em Cristo Jesus. Quando os "Williams Ramsays" dos tempos modernos, os céticos descrentes da Bíblia, olharem para Ela sem pressupostos negativos, quem sabe chegarão à mesma conclusão que aquele chegou.

Luiz Gustavo Assis é aluno do 4º ano de Teologia na Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho.

Referências:

1. Ramsay, William M. St. Paul: the Traveller and the Roman Citizen. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1962. p. 8.
2. Ramsay, p. 48. Ele está citando um autor chamado Schürer, que não acreditava no relato bíblico.
3. Thompson, J. A. The Bible and Archaeology. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1972. p. 382
4. Bornkamm, Günter. Paulo: Vida e Obra. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992. p. 16.
5. Yamauchi, Edwin. Las Excavaciones y las Escrituras. Casa Bautista de Publicaciones. 1977. p. 104, 105.

quarta-feira, abril 18, 2007

Cidades fascinantes e perigosas

Na bela história bíblica de Sansão, é curioso notar que os verbos “descer” e “subir” são usados várias vezes, de modo proeminente. Por exemplo: Sansão atacou os filisteus “furiosamente, matando muitos deles. Então desceu e habitou na fenda do penhasco de Etã; e os filisteus subiram e acamparam-se contra Judá... Perguntaram-lhes os homens de Judá: Por que subistes contra nós? Responderam eles: Subimos para amarrar a Sansão, para lhe fazer a ele como ele nos fez a nós. Então três mil homens de Judá desceram... e disseram a Sansão... Descemos para te amarrar e para te entregar nas mãos dos filisteus” (Juízes 15:8-11).

Essa terminologia reflete a geografia do local. Os israelitas, inclusive a família de Sansão, moravam nas áridas montanhas de Canaã, enquanto os filisteus moravam nas verdejantes planícies da costa do Mar Mediterrâneo. Mas, para Sansão e muitos outros jovens de sua época, “descer” era não apenas mais fácil, como também muito mais atrativo. Escavações arqueológicas realizadas até agora, tanto nas montanhas quanto nas planícies, revelam que os filisteus possuíam arte e tecnologia muito mais avançadas, e viviam numa sociedade muito mais sofisticada do que os israelitas. Atrativos não faltavam para quem, como Sansão, morava numa pequena vila rural, simples e rústica. As cidades dos filisteus fremiam de excitação!

As cinco principais – Asdode, Gaza, Ascalom, Ecrom, e a maior delas, Gate (1 Samuel 6:17) – têm sido extensivamente escavadas por arqueólogos em anos recentes. Ficavam à beira-mar ou bem próximas da costa. Seus portos as mantinham abastecidas com as melhores mercadorias do mundo. Jóias de ouro e pedras preciosas, finos vasos decorados, utensílios e produtos de beleza, têm sido encontrados nas escavações. Em Ascalom, foi desenterrada a rua principal da cidade, dotada de uma grande praça, cercada por lojas e depósitos. Muito provavelmente, foi a esse lugar que Davi se referiu ao lamentar a decadência de Israel: “Não o noticieis em Gate, nem o publiqueis nos bazares de Ascalom, para que não se alegrem as filhas dos filisteus, para que não saltem de contentamento as filhas dos incircuncisos" (2 Samuel 1:20).

Nesse local, foi também encontrado um grande prédio, que incluía três salas equipadas com prensas para a produção de vinho – produto responsável por grande parte da fama e glamour da cidade e que animava suas festas (Juízes 16:25). Num prédio próximo, foram encontradas balanças de bronze com pesos de pedra. Ao lado, foi encontrado um caco de cerâmica em que se escreveu o recibo de uma carga de grãos, paga com prata.

Contudo, a riqueza e a sofisticação dos filisteus escondiam muitos perigos. Sansão deixou-se levar por eles. Entregou-se às mulheres dissolutas e às farras. E isso o arrastou para a desgraça e para a morte. Traído pela filistéia Dalila, Sansão foi preso e teve os olhos arrancados. Em seus últimos minutos de vida, quando os filisteus o fizeram de palhaço para sua diversão dentro do templo do deus Dagom, Sansão derrubou as duas colunas centrais do prédio e soterrou a todos.

Dois templos foram encontrados pelos arqueólogos em Ecrom. Ambos tinham o teto sustentado por dois pilares centrais!

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

segunda-feira, abril 16, 2007

As obras da lei

Entre 1947 e 1956, centenas de manuscritos antigos – incluindo cópias de quase todos os livros do Antigo Testamento – foram descobertos, dentro de grandes vasos de barro, escondidos em 11 cavernas, nas montanhas do lado oeste do Mar Morto. Ao analisar sua escrita e submetê-los a testes radiométricos, os arqueólogos ficaram pasmos ao constatar que esses documentos tinham cerca de 2 mil anos de idade! Alguns haviam sido escritos nos dias de Jesus e outros até dois séculos antes!

Quem teria escrito os famosos Manuscritos do Mar Morto? Por que teriam sido escondidos nas cavernas do remoto e inóspito Deserto da Judéia? Que segredos eles escondem? Essas perguntas continuam sendo debatidas até hoje por arqueólogos, historiadores, filólogos e teólogos. Mas algumas respostas surpreendentes já foram encontradas.

Uma dessas surpresas ocorre num manuscrito conhecido como MMT (abreviatura da expressão hebraica Miqsat Ma-ase ha-Torah = importantes obras da lei). Esse é o único escrito, fora da Bíblia, que usa a expressão “obras da lei”. Antes de sua descoberta, essa expressão só aparecia nos escritos do Apóstolo Paulo, onde severas críticas são feitas às “obras da lei”. Paulo ensina, por exemplo, que “o homem não é salvo pelas obras da lei” (Gálatas 2:16) e que “todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gálatas 3:10).

O que Paulo queria dizer por “obras da lei”? Alguns acharam que ele estava se referindo à obediência à Lei de Deus e concluíram, muito apressadamente, que os cristãos não precisavam mais obedecer aos Dez Mandamentos. O MMT, contudo, aponta para um significado totalmente diferente.

Seis cópias fragmentárias do MMT foram descobertas nas cavernas do Mar Morto, indicando que, provavelmente, muitas outras cópias foram feitas e distribuídas. O MMT é uma carta, com mais de 130 linhas, que tenta convencer seus leitores a praticar as “importantes obras da lei” e, para nossa grata surpresa, ele faz uma lista de cerca de 20 dessas práticas religiosas, consideradas extremamente importantes pelo autor do MMT. Entre elas está: (1) não usar tecidos em que se mistura lã e linho; (2) não colocar debaixo do mesmo jugo animais de espécies diferentes; (3) não semear grãos de espécies diferentes no mesmo campo; (4) não lavar utensílios em água corrente – pois poderiam se contaminar com o que tivesse sido lavado corrente acima; etc. O MMT, evidentemente, interpreta e amplifica, de maneira extremada e distorcida, os ensinamentos do Antigo Testamento. Sua preocupação é com a preservação da pureza, em não misturar o puro com o impuro, em não incorrer no erro do “jugo desigual”. O MMT considera tais práticas como essenciais para a religião.

O apóstolo Paulo se posiciona firmemente contra esse ensinamento que, como nos mostra o MMT, parece ter sido bastante difundido naquela época. O MMT comete o erro de achar que impureza é uma questão externa, ritualística, e não moral, do íntimo do coração. Para Paulo, uma religião meramente exterior e ritualística não têm qualquer virtude, porque todos somos “justificados pela fé em Cristo, e não pelas obras da lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado” (Gálatas 2:16). A Lei de Deus, porém, continua sendo “santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Romanos 7:12).

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

quinta-feira, abril 05, 2007

Seres humanos inflacionados

Se você estivesse fazendo uma pesquisa na biblioteca de sua universidade e encontrasse ali um jornal da época do presidente Juscelino Kubitschek, dizendo que a moeda brasileira corrente era o real, qual seria a sua reação? Evidentemente, seria de descrédito total, já que todos sabemos que a moeda naquela época era o cruzeiro.

São muitos os críticos da Bíblia em nossos dias. As razões usadas por eles para negar o relato bíblico vão desde a incapacidade de existirem eventos sobrenaturais até as supostas contradições cronológicas. Um dos argumentos mais comuns é a afirmação de que o ambiente histórico da narrativa bíblica é diferente do ambiente reconstruído pela Arqueologia. Será isso verdade?

Vejamos, por exemplo, o valor dos escravos na região do Antigo Oriente Próximo. Durante o período do Império Acádio (c. 2370-2190 a.C.), o preço de um servo ficava entre 10 a 15 siclos. Já no segundo milênio a.C., no período da antiga Babilônia (c. 1800-1700 a.C.), o valor era de 20 siclos, de acordo com o Código do rei Hamurabi e as leis da antiga cidade de Mari. As inscrições encontradas nas escavações nas cidades de Nuzi e Ugarit revelaram que por volta do XIV e XIII século a.C., a escravidão sofreu uma “inflação”, seu custo subiu para 30 ciclos. Quinhentos anos depois, no período assírio, era em torno 50 a 60 ciclos e, por fim, no período persa (IV e V séc. a.C.), algo em torno de 90 a 120 ciclos.

Quando comparamos esses valores com as informações bíblicas disponíveis, vemos um sincronismo surpreendente. Quando José foi vendido pelos irmãos, eles receberam 20 ciclos de prata (cf. Gên. 37:28), o mesmo preço do Antigo Oriente Próximo no XVIII século a.C. Na porção que descreve a aliança de Deus com Israel, uma das leis envolve o valor de um escravo, que era de 30 ciclos de prata (cf. Êxo. 21:32), refletindo assim a tradição do XIV e XIII século a.C. Finalmente, quando Menahem, rei de Israel, pagou tributo ao rei assírio Tiglate Pileser (o Pul bíblico), considerou cada israelita no valor de 50 ciclos de prata (cf. II Reis 15:20), o valor da época.

Se os personagens do Antigo Testamento foram inventados na época em que os judeus estavam em Babilônia ou no período persa, porque então o preço de José não era 90 ciclos? E por que o preço no êxodo não era o da época persa? Ao invés de tentar explicar, é mais fácil aceitar que a tradição bíblica reflete de forma precisa o ambiente histórico da época que ela narra.

Fontes:
Kenneth Kitchen. The Patriarcal Age: Myth or history? (BAR, Março-Abril. 1995, pág. 52.)
Roland De Vaux. Instituições de Israel no Antigo Testamento, págs. 109 e 110.

Luiz Gustavo Assis, aluno do 4º ano da Faculdade Adventista de Teologia, campus Engenheiro Coelho.

quinta-feira, março 22, 2007

A tumba vazia

Lançar livros e produzir filmes sobre teorias que apresentam um Jesus Cristo diferente do relato bíblico já virou moda. A última tentativa foi um documentário produzido pelo aclamado diretor do Titanic, James Cameron, exibido no Brasil no último dia 18 de março, num canal de TV a cabo. A obra sugere, semelhantemente às polêmicas anteriores, que Jesus teria se casado com Maria Madalena e tido um filho com ela, por nome Judas. O documentário conta com a direção também do cineasta Simcha Jacobovici, que no ano passado veiculou um programa sobre as possíveis provas do Êxodo bíblico. O site do canal que exibiu o documentário diz que o programa se baseia em pesquisas arqueológicas, ciência forense, análise de DNA e estatísticas. Entrevistamos o professor de Arqueologia Bíblica da Faculdade Adventista da Bahia, que recentemente concluiu o seu Ph.D. em Arqueologia Clássica pela Universidade do Texas, em Austin (EUA). O professor Milton justifica por que vê esse documentário como mais uma produção sensacionalista sobre a biografia de Cristo, explica o bê-a-bá da Arqueologia Bíblica, e como essa ciência tem esclarecido a compreensão do relato bíblico.


No último fim de semana, foi veiculado um documentário sobre o suposto túmulo perdido da família de Jesus. Segundo os produtores do vídeo, a descoberta apontaria para um relacionamento amoroso entre Jesus e Maria Madalena, do qual teria nascido um filho. Por que estudiosos da área têm tachado essa teoria como sem fundamento?


Dr. Milton Torres - Há algumas razões muito fortes para se duvidar de que o assim chamado túmulo de Talpiot ou “Tumba da Família de Jesus” tenha, de fato, pertencido a Jesus e Sua família. Em primeiro lugar, a alegação dos responsáveis pelo documentário é de que uma análise estatística prova que a combinação de tantos nomes associados com o relato evangélico só seria possível caso a tumba pertencesse à família de Jesus ou a algum rico patrono que pudesse pagar pelo túmulo. Foram encontrados, no túmulo, os seguintes nomes: (1) “Jesus, filho de José”; (2) Mateus; (3) um apelido para o nome José; (4) Maria, em aramaico; (5) Mariane, em grego; e (6) “Judas, filho de Jesus”. A estatística é um procedimento válido e costumeiramente usado na arqueologia, mas fazer toda uma interpretação depender principalmente de suas quantificações é um processo arriscado.

O problema é que o nome de Jesus era tão comum em sua época que ele ocorre em 98 outras tumbas e 21 outros ossuários. Além disso, não há evidência alguma de que a Mariane identificada na tumba seja Maria Madalena, nem tampouco de que os seguidores de Jesus jamais o houvessem chamado de “Jesus, filho de José”. Seria muito improvável que os discípulos ou familiares de Jesus pusessem essa inscrição na tumba, desrespeitando, assim, sua memória, quando o próprio Jesus, diversas vezes, já havia se identificado como o “Filho de Deus”.

É, além disso, bastante estranho que o escavador original da tumba, o Dr. Amos Kloner, professor da Universidade Bar-Ilam, em Jerusalém, não tenha chegado a conclusões semelhantes quando escavou a tumba pela primeira vez em 1980. O documentário sobre o suposto túmulo da família de Jesus parece mais um episódio do que se chama “arqueologia fantástica”, ou seja, atividade arqueológica empreendida por quem tem mais imaginação do que objetividade científica. Não admira que o documentário tenha sido produzido por James Cameron, diretor hollywoodiano acostumado à ficção de filmes como "Titanic", "Exterminador do Futuro", "Alien, o Oitavo Passageiro" e "Piranha", todos dirigidos por ele.

A teoria por trás do documentário emana, de fato, de um livro gnóstico do século IV A.D., intitulado Atos de Filipe que apresenta os feitos apostólicos de Maria Madalena e seu relacionamento com Jesus. De acordo com Chris Rosebrough, há demasiadas especulações necessárias para que a proposta de Cameron seja verdadeira. O túmulo de Talpiot será a tumba da família de Jesus se e somente se: (1) Jesus for irmão de José; (2) Mariane for mesmo Maria Madalena; (3) Judas for filho de Jesus com Maria Madalena; e (4) Mateus for parente de Maria, mãe de Jesus, mas não seu filho. Além disso, para explicar a ausência dos restos mortais dos outros irmãos de Jesus, os produtores do documentário ressuscitam a já descartada hipótese de que o ossuário de Tiago seja, de fato, o ossuário pertencente ao irmão de Jesus conhecido por esse nome, mas que teria sido furtado da tumba quando esta foi escavada em 1980. O problema é que existe uma foto daquele ossuário, tirada em 1970, antes das escavações do túmulo de Talpiot.

Além disso, acreditar na acuracidade de um documento gnóstico do século IV, que identifica Maria Madalena com Mariane, em detrimento do relato bíblico contemporâneo ao sepultamento de Jesus não parece muito razoável, especialmente quando esse documento gnóstico descreve que Mariane gostava de pregar o evangelho para os animais, tendo sido responsável pela conversão de um bode falante e pela morte de um dragão. Finalmente, os peritos ainda levantam dúvidas quanto à presença do nome de Jesus na tumba. As letras não são claras e, por isso, há uma proposta alternativa de que o nome seja Hanum e não Jesus.

Quando se trata da validade histórica da Bíblia, costuma-se recorrer às descobertas arqueológicas. Quais são as grandes contribuições que essa ciência tem dado para a confirmação do relato bíblico?

Dr. Torres - A arqueologia tem iluminado o texto bíblico de diversas formas, algumas delas até surpreendentes. A descoberta do evangelho de Judas e dos textos da Biblioteca de Nadi Hammadi, por exemplo, foi importantíssima, pois os escritores do Novo Testamento demonstravam certa preocupação quanto à influência dos gnósticos sobre a comunidade cristã, mas nada tínhamos conservado dos escritos gnósticos. Encontrar textos escritos por pessoas daquela persuasão nos ajudou a ter uma idéia bem clara das razões por que os escritores do Novo Testamento estavam tão apreensivos em relação aos ensinamentos gnósticos. Outra descoberta fantástica ocorreu em 1845. O arqueólogo Henry Layard encontrou, na antiga cidade de Nínive, o assim chamado “Obelisco Negro de Salmaneser III”, um dos mais antigos artefatos arqueológicos a se referir a um personagem bíblico: o rei hebreu Jeú, que viveu cerca de nove séculos antes de Cristo. Este artefato encontra-se preservado, agora, no Museu Britânico, em Londres. Um artefato semelhante é o assim chamado “Prisma de Taylor”, um prisma hexagonal de argila queimada que faz referência à batalha travada entre Senaqueribe e o rei hebreu Ezequias, no início do século VII antes de Cristo, uma batalha tão importante que foi narrada em três lugares diferentes da Bíblia: 2 Reis 19, 2 Crônicas 32 e Isaías 37:38. Este artefato também se encontra depositado no Museu Britânico.

O arqueólogo Walter Kaiser enumera as seguintes descobertas como sendo as dez mais importantes da arqueologia bíblica:

1. Os amuletos de Ketef Hinnon, contendo o mais antigo texto do Antigo Testamento (séc. VII a.C.).

2. O Papiro John Rylands, contendo o mais antigo texto do Novo Testamento (125 A.D.).

3. Os Manuscritos do Mar Morto.

4. A pintura de Beni Hasan, revelando como era a cultura patriarcal 19 séculos antes de Cristo.

5. A estela de basalto de Dã, descoberta em 1993, que provou, sem sombra de dúvidas, a existência do rei Davi.

6. O tablete 11 do épico de Gilgamés, descoberto em 1872, por George Smith, que provou a antigüidade do relato do dilúvio.

7. O tanque de Gibeão (mencionado em II Samuel 2:13 e Jeremias 41:12), descoberto em 1833, por Edward Robinson.

8. O selo de Baruque, descoberto em 1975, provando a existência do secretário e confidente do profeta Jeremias.

9. O palácio de Sargão II, rei da Assíria mencionado em Isaías 20:1, descoberto em 1843, por Paul Emile Botta, de cuja existência os historiadores seculares duvidavam até essa descoberta.

10. O obelisco negro de Salmaneser.

Os arqueólogos pesquisam mais por motivação cientifica ou religiosa? O fato de um pesquisador ser religioso ou não, compromete o resultado do próprio estudo?

Dr. Torres - Independentemente de escavar ou não, nenhum arqueólogo pesquisa de forma totalmente objetiva. Quando ele sai para seu campo de trabalho, já tem uma boa idéia sobre o que quer achar. E isso é fator determinante para sua pesquisa. Por isso, arqueólogos capitalistas vão encontrar “provas” de economias bem ajustadas mesmo em épocas antigas. O fato de existir certa tendência para achar um tipo específico de “prova” não invalida, contudo, as contribuições da arqueologia, uma vez que tais descobertas precisam ser trazidas diante da comunidade acadêmica. Só quando há certo grau de consenso sobre o que uma descoberta significa é que isso é aceito pela comunidade como verdade. Há poucos anos, por exemplo, a descoberta de um suposto ossuário pertencente a Tiago, irmão de Jesus, causou entusiasmo em todo o mundo, mas logo se percebeu que se tratava de uma fraude. Ou seja, a comunidade arqueológica é suficientemente madura para detectar o que há por trás das intenções de arqueólogos que se deixam levar por sua ideologia.

Vamos voltar um pouco. O que é Arqueologia?

Dr. Torres - A arqueologia é uma aventura. A arqueologia é curiosidade intelectual e uma forma de satisfazer essa curiosidade. A imaginação arqueológica foi refinada nos últimos duzentos anos de tal forma que hoje temos uma disciplina acadêmica com esse nome. A arqueologia é, de fato, a ciência que escava, cataloga, mede, descreve e analisa artefatos e objetos do passado. Segundo o arqueólogo Clive Gamble, descobrir uma tumba intocada é emocionante, porém mais importante do que isso é explorar nossa capacidade de pensar além das circunstâncias do quotidiano e absorver em nossa vida o conhecimento sobre os objetos e as atividades do homem em tempos passados.

Quando ela surgiu e se consolidou como área do conhecimento humano?

Dr. Torres - A arqueologia surgiu, a princípio, como um conjunto de crônicas escritas por homens excêntricos acerca de suas descobertas sobre o passado. Mas logo esses homens descobriram que era possível analisar o estilo dos artefatos e propor esquemas classificatórios para eles. Descobriram também que a estratigrafia, isto é, a disposição dos artefatos nas trincheiras cavadas para descobri-los, podia ser correlacionada com a idade relativa de cada artefato. Ou seja, um artefato descoberto no fundo da trincheira podia ser imaginado como sendo mais antigo do que um artefato descoberto pouco abaixo da superfície. Com isso, surgiram os primeiros métodos arqueológicos. Em 1819, Christian Thomsen propôs um sistema para classificar artefatos pré-históricos que ele distribuiu em três idades: idade da pedra, do bronze e do ferro. Assim, nasceu a arqueologia como ciência.

A Arqueologia Bíblica é uma especialidade dessa área. O que ela estuda?

Dr. Torres - A disciplina acadêmica da Arqueologia se subdivide em áreas que permitem ao especialista se concentrar em campos específicos de seu interesse. Assim, existem ramos da arqueologia como, por exemplo, a arqueologia antropológica, a arqueologia clássica (que se interessa pela Antigüidade greco-romana) e a arqueologia bíblica ou cristã. Essa distinção entre arqueologia bíblica e cristã é importante, pois os pesquisadores que se dizem arqueólogos bíblicos estão geralmente interessados em ver como essa ciência pode confirmar o relato bíblico, enquanto que o interesse da arqueologia cristã é desvendar a história do Cristianismo, independentemente de suas descobertas confirmarem ou não o relato bíblico.

Por que o Brasil não tem tradição no estudo da Arqueologia Bíblica? Quais são os grandes centros de pesquisa dessa ciência?

Dr. Torres - Acredito que o Brasil não seja um centro de estudos da arqueologia bíblica pela razão óbvia de não ser um país onde existam sítios arqueológicos relacionados com a Bíblia e porque, além disso, o Brasil não investe suficientemente na área acadêmica. Isto é, não temos tradição na área da arqueologia bíblica nem tampouco em outras áreas. É admirável ver um programa ativo de arqueologia em universidades como a USP, por exemplo, quando tão pouco incentivo há para isso no País. Por outro lado, os melhores programas de arqueologia bíblica são aqueles desenvolvidos por países do primeiro mundo, como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e França, e por países pertencentes às terras bíblicas, como Israel, Egito, Grécia e Itália, por exemplo.

O único museu de Arqueologia Bíblica da América Latina está localizado no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), na região de Campinas, SP. Qual é a importância dele para a popularização dessa área no Brasil?

Dr. Torres - Uma visita a um museu arqueológico é sempre uma experiência impactante. Já tive a oportunidade de visitar vários museus no mundo, sendo que quatro deles me encantaram: o Museu do Vaticano, o Museu Capitolino de Roma, o Museu Arqueológico de Atenas e o Museu Arqueológico da Universidade de Andrews nos Estados Unidos. É claro que existem museus maiores e mais sofisticados do que esses, mas o que me impressionou em tais museus foi a importância dos artefatos por eles conservados em relação à história da Igreja Cristã e do texto bíblico. No entanto, apesar de os museus serem tão úteis e necessários para a divulgação da história da arqueologia e da história da humanidade, deve-se conservar em mente que o melhor para a arqueologia é conservar os artefatos o mais próximo que for possível dos locais onde foram encontrados. Um artefato depositado em um museu nos dá um vislumbre do passado, mas um museu estabelecido perto de um sítio arqueológico nos revela dimensões extraordinárias do passado arqueológico. Infelizmente, porém, nem todos nós podemos viajar o mundo para conhecer esses artefatos. Daí a necessidade de termos também no Brasil um museu de arqueologia bíblica que supra essa deficiência.

Como se dá o trabalho do arqueólogo no campo de escavação, quais são as ferramentas usadas, os passos dados, e os cuidados tomados?

Dr. Torres - Nem todo arqueólogo escava. Se todo arqueólogo escavasse, o mudo seria, provavelmente, um buraco. Há arqueólogos que são especialistas em decifrar textos antigos, outros são especialistas em datar os artefatos. Há até arqueólogos cuja especialidade é o pólen (os assim chamados palinólogos), uma das mais úteis substâncias para a datação de sítios arqueológicos. Hoje, a principal preocupação dos arqueólogos é fazer descobertas sem a utilização de métodos invasivos de escavação. Um sítio arqueológico é um recurso não renovável. Isto é, uma vez escavado, perde muito de sua utilidade. Por isso, há certo interesse, hoje, em descobrir os artefatos no subsolo antes de escavar. Há aparelhos como o magnetrômetro, por exemplo, que nos possibilitam enxergar o subsolo e, assim, direcionar precisamente a escavação a fim de fazer o menor dano possível ao sítio arqueológico. No caso da escavação, primeiramente se obtém permissão das autoridades competentes, depois se faz um levantamento topográfico do sítio, então se marca a trincheira e, finalmente, se escava. No passado recente, as trincheiras eram marcadas sob a forma de grade, mas atualmente a preferência é marcar simplesmente um quadrado ou retângulo. A escavação é um processo delicado, pois ninguém quer danificar o artefato no processo de escavá-lo.

O que o levou a fazer doutorado nessa área?

Dr. Torres - O meu doutorado não é bem na área de arqueologia bíblica, mas arqueologia clássica; embora tenha tentado fazer um estudo interdisciplinar voltado tanto para a arqueologia de Roma e Grécia quanto para a arqueologia cristã. A motivação principal foi minha paixão pela língua em que foi escrito o Novo Testamento e meu desejo de ter um conhecimento de primeira mão da história da Igreja Cristã primitiva. Roma era a metrópole do mundo naquela época e exerceu profunda influência sobre o desenvolvimento do Cristianismo. Eu quis voltar no tempo, até o Império Romano, a fim de verificar em que sentidos esse poder secular exerceu impacto sobre a fé dos primeiros cristãos. Minha tese de doutorado diz respeito às razões por que a basílica, um edifício secular comumente usado pelos gregos e romanos muito antes da fundação do Cristianismo, foi adotada como principal edifício de culto dos cristãos. Minha hipótese é que esse edifício, ocasionalmente usado para os velórios dos romanos (inclusive o velório de Augusto, primeiro e mais famoso dos imperadores), foi, por isso, a escolha lógica da comunidade cristã, que aderira a uma religião considerada ilícita pelas autoridades romanas e que usava os sepultamentos de seus membros como uma desculpa para a realização de cultos religiosos. Além disso, havia muitas semelhanças entre a cerimônia fúnebre realizada pelo adepto das religiões tradicionais de Roma no âmbito do túmulo-casa romano e os velórios realizados pelos cristãos na basílica cemiterial, inclusive a propensão tanto de pagãos quanto de cristãos para a realização de banquetes fúnebres nesse contexto. A Igreja Cristã nasceu, em Roma, no contexto dos cemitérios, inclusive as catacumbas, nada mais apropriado do que escolher um edifício que lhe facilitasse as reuniões nesse ambiente.

Teria alguma escavação em especial que o marcou?

Dr. Torres - Participei de três escavações até hoje, todas como requisitos para a obtenção do Ph.D. em arqueologia clássica. A que mais me chamou a atenção foi a escavação de uma sinagoga, talvez pertencente ao primeiro século A.D., localizada em Ostia Antica, o antigo porto da cidade de Roma. De fato, não escavamos toda a sinagoga, que já havia sido escavada na década de 1960, mas fizemos sondagens em pontos estratégicos do solo da sinagoga a fim de confirmar algumas hipóteses levantadas pelo Dr. Michael White, professor de Arqueologia Cristã na Universidade do Texas em Austin e diretor do Institute for the Study of Antiquity and Christianity (ISAC). Como se tratava de um edifício de tamanho considerável, o grupo de arqueólogos foi dividido em equipes e coube a minha turma medir e desenhar o prédio à medida que o limpávamos e perfurávamos. Foi uma experiência fantástica.

(Wendel Lima, para o Paraná Online)

Para saber mais: conheça o site sobre o túmulo de Jesus no Instituto Arqueológico da América.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Cidades muradas

Em julho de 2006, na mesma manhã em que desenterrei uma “escama” de bronze da couraça de um guerreiro do décimo século a.C., numa camada arqueológica marcada por evidências de violento combate e destruição em Megido, no norte de Israel, moderníssimos caças israelenses passaram em vôos rasantes sobre nossa cabeça, voltando de mais um bombardeio no Líbano. Evidentemente, a tecnologia de guerra evoluiu enormemente, mas não a natureza humana. Como há milênios, os homens de hoje continuam se odiando e se matando pelos motivos de sempre... e ansiando pela paz.

A Bíblia está repleta de relatos de guerra, bem como de lições de paz. As escavações arqueológicas, por sua vez, têm revelado que a guerra e o medo da guerra dominavam a vida das pessoas dos tempos bíblicos, e nos ajudam a compreender as histórias e os ensinos bíblicos.

Para se protegerem dos ataques inimigos, todas as cidades eram circundadas por imensos muros de pedra. Os muros de Tel Dan, por exemplo, cidade na fronteira norte de Israel, tinham aproximadamente 5 a 7 metros de altura por quase 4 metros de largura. Falar de uma cidade sem muros era falar de absoluta fraqueza e vulnerabilidade: “Como cidade derrubada, que não tem muros, assim é o homem que não pode controlar seu espírito” (Provérbios 25:28).

O acesso às cidades se fazia através de imensos portais. Os de Gezer, Megido e Hazor, reconstruídos por Salomão (I Reis 9:15), descobertos pela Arqueologia, são quase idênticos, devendo ter seguido a mesma planta básica. Eles eram rapidamente fechados em tempo de guerra. Guardar os portais da cidade era tão vital que se tornou símbolo de sabedoria e grande prudência: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios” (Salmo 141:3).

Em Megido, os arqueólogos encontraram um enorme silo para armazenagem de alimentos. Em Jerusalém, Arad, Hazor, Megido, Dan e outros sítios arqueológicos, complexos sistemas de abastecimento de água foram descobertos. Essas providências eram necessárias para o tempo de guerra, quando os exércitos inimigos cercavam as cidades, não permitindo que ninguém entrasse nem saísse, esperando que seus habitantes se rendessem por causa da sede e da fome. Nessa hora de indizível sofrimento, felizes eram os que podiam encontrar consolo na fé em Deus: “Ainda que um exército me cerque, o meu coração não temerá; ainda que a guerra se levante contra mim, nEle confiarei” (Salmo 27:3).

O sofrimento e a angústia constantes geravam, no coração de todos, profundo anseio por paz e segurança. Alguns as buscavam construindo muros cada vez maiores; outros, fazendo aliança com nações poderosas; outros ainda, formando exércitos, com numerosos carros e cavalos. O rei Davi, porém, chama atenção para a verdadeira fonte de segurança: “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus” (Salmo 20:7).

Jorge Fabbro é arqueólogo e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

A cidade de Ramessés

Assuntos envolvendo a arqueologia bíblica e os livros de autoria mosaica tendem a ser constantemente questionados por acadêmicos liberais ao redor do mundo.[1] Apesar de alguns negarem a historicidade do início da nação israelita, há evidências para se crer que a narrativa do Pentateuco possui credibilidade histórica.[2] Entre os que defendem a realidade histórica do relato, há uma divisão quanto à data do Êxodo. O importante estudo cronológico de Edwin Thiele[3] sobre os reis de Israel situa o Êxodo em torno de 1450 a.C., ou seja, na XVIII dinastia (cf. I Rs 6:14; Jz 11:26); o faraó da ocasião seria Thutmose III ou Amenhotep II.[5]

Um segundo grupo defende data mais recente, algo em torno de 1300 a.C., exatamente no período do faraó Ramsés II, que viveu na XIX dinastia e é um dos monarcas mais conhecidos na história egípcia. Número significativo de pesquisadores do Antigo Testamento recorrem a Êxodo 1:11 para defender o Êxodo como tendo ocorrido na XIX dinastia,[7] onde é dito que os israelistas construíram duas cidades celeiros para o faraó: Pitom e Ramessés.

Entre as datas, temos um lapso de aproximadamente 150 anos. Como harmonizar as informações? A mera menção do nome Ramessés, em si, é um indicativo do Êxodo na XIX dinastia?

Neste artigo é feito um estudo de quatro alternativas não conclusivas sobre a identificação da bíblica Ramessés. A data do Êxodo não é abordada neste trabalho, por questões metodológicas. A pesquisa, portanto, ficará aberta para futuros complementos sobre o assunto.

** ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO

Ramessés como a Per-Ramesse egípcia

Per-Ramesse é uma abreviação do nome Per-Ramesse mry ‘Imn ‘aa nehtw, “residência de Ramses, amado de Amon, o grande Vencedor”.[8] O primeiro a sugerir essa possibilidade foi H. Brugsch, em 1875.[9] Outra versão do nome pode aparecer como Pi-Ramesse. Os estudos arqueológicos têm lançado luz considerável sobre o histórico de Per-Ramesse.[10] Inscrições egípcias informam que ela foi fundada por Seti I, o segundo faraó da XIX dinastia, e concluída pelo seu filho Ramsés II.[11] Essa cidade foi a capital dessa dinastia, e tem sido identificada com Tanis e/ou Qantir.[12] Vejamos brevemente essas duas identificações, começando com Tanis.

O primeiro a sugerir que a cidade Per-Ramesse estava localizada em Tanis foi novamente H. Brugsch, em 1872.[13] Segundo Siegfried J. Schwantes, após a expulsão dos Hiksos, a cidade de Ávaris teve seu nome mudado para Tanis e aparece no Antigo Testamento com o nome Zõa (cf. Nm 13:22; Sl 78:12 e 43).[14] A declaração em parte é verdadeira, porém, o momento onde Ávaris é identificada com Tanis é questionável.

Tanis é a atual San el-Hagar e teve seus primeiros trabalhos feitos por Auguste Marriette (1860-1880), posteriormente por Flinders Petrie (1883-1886) e de forma significativa por Pierre Montet (1921-51). Ali foram encontrados vários templos dedicados às divindades Amum, Ptah, Re, etc., mas o palácio real de Ramsés II não foi encontrado. A identificação de Tanis com a Per Ramesse egípcia torna-se mais difícil ainda se levarmos em consideração as pesquisas posteriores ao trabalho de Montet. Os objetos encontrados lá, ou seja, em Sane l-Hagar, foram colocados ali posteriormente para construções, não no período do faraó Ramsés II. William Shea afirma que não há nenhuma confirmação arqueológica de habitação em Tanis antes da XXI dinastia, c. 1100 a.C.[15]

Sobre Qantir a situação é mais harmoniosa. Qantir fica 17 km ao sul de San el Hagar. Mahmud Hamza foi o primemiro a escavar Qantir em 1928. As descrições de Per Ramesse que temos disponíveis no papiro Anastasis III, a saber, a fertilidade do campo, a existência de uma rota por terra e outra pelo mar para a Ásia e a presença de um palácio de Ramsés II, correspondem ao campo geográfico de Qantir.

Seu nome atual é Tell el-Dab’a e foi escavada por Manfred Bietak, diretor do Austrian Archaeological Institute, em meados da década de 1950. Os restos de ocupação dessa cidade por volta das dinastias XII e XIII revelam um fim por meio de uma grande e violenta destruição. Após a destruição, três estratos dos hyksos, sendo que o terceiro e último revela outra destruição violenta. Esta última pode ser relacionada com o início da XVIII dinastia, quando o faraó Ahmose expulsou os governantes semitas do Delta. Evidências apontam para o fato de que os faraós desta dinastia (XVIII) não tenham usado essa cidade, mas na dinastia seguinte (a XIX) ela foi reconstruída.[16]

De acordo com Hershel Shanks, editor da Biblical Archaeology Review, a identificação da Ramessés bíblica com a Per-Ramesse egípcia é impossível foneticamente. Fontes egípcias nunca se referiram a essa cidade com o nome real de Ramessés, sozinho, antes, sempre é mencionada com a palavra egípcia pr (casa), ou seja, Per-Ramesse.[17] A mesma opinião é defendida por E. Uphill e D. Cameron Alexander Moore.[18]

Montet contra-argumenta a ausência do prefixo Per ou Pi no nome Ramesses. Para ele, esse é um fenômeno comum no texto veterotestamentário. Temos como exemplo o nome Baal-Meon, em Números 32:38, e Bet-Baal-Meon, em Josué 13:17, ou seja, a ausência do prefixo Bet (casa). Para ele, nomes puramente semíticos ou hebraicos podem, sim, ter tal ausência.[19]

Porém, é importante lembrar que boa parte das cidades egípcias começadas com o prefixo Pi ou Per, mencionadas nas páginas do Antigo Testamento (cf. Nm 33:8[20]; Ez 30:17) não o perderam. Se a Per Ramesse egípcia é a Ramessés bíblica, por que seu prefixo não aparece no texto? Per-Ramesse, portanto, não parece ser uma alternativa satisfatória para nossa pesquisa.

Ramessés como Khatana

À semelhança de Ramose, esta é uma alternativa da qual não se dispõe de muitas informações. Ao leste do braço pelusiano do Nilo, existem as ruínas de duas cidades: Qantir e Khatana. As escavações ali têm demonstrado um grande assentamento cananita e seus restos mostram uma grande afinidade com restos siro-palestinenses de c. 1700 a.C. a 1500 a.C., que foram encontrados em Tell el-Rataba, a bíblica Pithom.

A transliteração do hieróglifo usado para se referir a essa cidade é R3-mtny, que, segundo Shanks, pode ser projetado numa língua semítica como Ramezen.[21]

Durante as escavações dirigidas pelo austríaco Manfred Bietak, uma inscrição fragmentada com o nome Horemhab foi encontrada. Isso é significativo, já que este é o último faraó da XVIII dinastia. Podemos supor que houve alguma habitação em Khatana no período da XVIII dinastia, esperando é claro por novas descobertas que corroborem a historicidade do relato bíblico.

Ramessés como um anacronismo

Essa é uma das opiniões mais comuns entre os acadêmicos mais conservadores. A idéia básica desta opinião é a de que um copista posterior substituiu um nome antigo por um mais recente.[22]

É importante lembrar que o nome Ramessés não é usado no Pentateuco no sentido cronológico. Em Gênesis 47:11, por exemplo, está escrito que Jacó e seus filhos foram colocados na terra de Ramessés. Isso implica que a família de José desceu para o Egito no período do faraó com esse nome? De maneira nenhuma, antes, o nome deve ser entendido como uma atualização do texto.

A menção do nome Ramessés não é um indício forte o bastante para a localização do Êxodo na XIX dinastia. Se o Êxodo ocorreu em 1300 a.C., quando Móisés estava com 80 anos, e se o trabalho na cidade Ramessés ocorreu antes do nascimento de Moisés, temos que admitir que o nome Ramessés era comum antes dos chamados faraós ramessidas, e que a cidade não está necessariamente ligada a nenhum deles.[23]

Em Genesis 14:14 temos um exemplo semelhante. Ali é mencionada uma cidade cujo nome era Dan. O curioso é que na época de Abraão ela não se chamava Dan, mas sim Laish (cf. Jz 18:29) ou Leshem (cf. Js 19:47). O nome Dan foi usado muito tempo depois, na época dos juízes. Ramessés pode ser entendido da mesma forma.

Apesar de ser uma alternativa aparentemente muito válida para esta pesquisa, ela não está isenta de pontos fracos. O Antigo Testamento está repleto de exemplos de anacronismos, mas sempre quando o nome da cidade na época do copista é mencionado, o nome anterior a ele também é introduzido no texto (cf. Gn 28:19; Js 15:15; Jz 1:23).

Um exemplo de anacronismo na História é a referência à Palestina nos dias de Jesus, sendo que na época de Cristo não havia Palestina, já que o termo foi criado pelo Imperador Adriano, a partir do ano 135 d.C.

Ramessés e o vizir Ramose

Ramose foi um vizir, ou seja, um cargo semelhante ao de primeiro-ministro, hoje. Ele viveu durante os reinados de Amenhotep III e Akhnaten. A principal fonte de conhecimento a respeito dele é a sua própria tumba, a TT55 (Tumba de Tebas nº 55). Apesar de Ramose ter vivido cem anos depois da data bíblica do Êxodo, seu nome era comum desde a época dos hycsos.[24[

Gleason Archer Jr. liga o nome Ramose à cidade Ramesses de Êxodo 1:11. A semelhança na escrita para ele é significativa, já que o nome Ramose em egípcio antigo (r m s) tem uma grafia muito próxima do hebraico rm‘s.[25] Porém, lemos no próprio texto que a cidade foi construída para Faraó, não para um nobre ou vizir. Além disso, carecemos de exemplos de vizires no Egito antigo que se auto-homenageavam por meio de “cidades”. Ramose não parece ser uma alternativa satisfatória em nossa pesquisa.

** CONCLUSÃO

A mera menção do nome Ramessés não é em si evidência do Êxodo na XIX dinastia. Após termos apresentado quatro alternativas não conclusivas sobre o assunto, preferimos aquela que liga Ramessés à antiga cidade Khatana do braço Pelusiano do Delta, e a outra que coloca o nome Ramessés como um anacronismo, já que ambas se encaixam perfeitamente com uma visão equilibrada do relato bíblico.

(Por Luiz Gustavo S. Assis)

Referências

1. Ver por exemplo FINKELSTEIN, Israel; SILBERMAN, Neil Asher. E a Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003.

2. PRICE, Randall. Pedras que clamam. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p. 114-115. O grande número de nomes egípcios entre o povo de Israel é um ótimo argumento para a estadia dos israelitas no país dos faraós. Temos, por exemplo, o nome Finéas, que aparece em conexão com um sacerdote. PRITCHARD, James B. Ancient Near Eastern Texts: Relating to the Old Testament. Third edition with supplement. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1969. p. 216, n. (6). Algumas palavras que compõem o vocabulário hebraico do pentateuco são puramente egípcias. A palavra selo (cf. Gn 41:42), por exemplo, em hebraico é hotam e em egípcio htm. Linho fino em egípcio antigo é shash, já em hebraico, shesh (cf. Gn 38:18 e 25). SCHWANTES, Siegfried J. Arqueologia. São Paulo: IAE, 1988. p. 28-29. Por muito tempo, a hipótese documentária, que teve como principal defensor o alemão J. Welhausen, trabalhou com a idéia de que o pentateuco era na verdade uma compilação de textos feita por volta do VI século a.C. O apogeu da língua egípcia foi em torno do segundo milênio a.C., não na metade do primeiro milênio, ou seja, tais semelhanças no vocabulário só fazem sentido quando datamos a obra por volta do XV século a.C. Como introdução ao tema da hipótese documentária, ver: CASSUTO, Umberto. The documentary hypothesis and the composition of the Pentateuch. Jerusalem: Magnes Press, The Hebrew University, 1983.

3. Thiele.

4. KITCHEN, Keneth. How we know when Solomon ruled? Biblical Archaeology Society Online Archive ou o número da BAR com esse artigo. Através de calendários mesopotâmicos e egípcios, Kitchen apresenta razões sólidas para situarmos o reinado de Salomão entre 970 a.C a 930 a.C.

5. HOWARD JR., David M.; GRISANTI, Michael. Giving the Sense: Understanding and Using Old Testament Historical Texts. Grand Rapids, MI: Kregel, 2003. p. 245-247. Neste caso, Thutmoses III seria o faraó da opressão e Amenhotep II, seu filho, seria o faraó do Êxodo. Nos primeiros capítulos de Êxodo, vemos uma agitação no campo da construção civil, o que para alguns é totalmente improvável ter ocorrido na XVIII dinastia, como por exemplo CURVILLE, Donovan. The Exodus problem and its ramifications, vol. 1. Challenge Books: CA, 1971. p. 34. É importante mencionarmos que na tumba do vizir Rekhmire, que viveu na época de Thutmoses III, foram encontradas pinturas de escravos semitas fazendo e transportando tijolos. A informação é significativa já que demonstra um envolvimento indireto de Thutmoses III com construções na época do seu reinado. Para outras informações sobre Rekhmire, ver: PRITCHARD, James B. op. cit., p. 212-213. Ver também: ARCHER JR., Gleason. A Survey of Old Testament Introduction. Moody Press: Chicago, 1968. p. 215.

7. LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederic W. Old Testament Survey: The message, form and background of the Old Testament. 1. ed. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1992. p. 126. LIVINGSTON, G. Hebert. The Pentateuch in its cultural environment. Grand Rapids, MI: Baker, 1987, p. 47-48. ZUCK, Roy. gen. ed. Vital Apologetic Issues: Examinig Reason and Revelation in Bible Perspective. Grand Rapids, MI: Kregel, 1995, p. 250. FINEGAN, Jack. Handbook of biblical chronology: Principles of time reckoning in the ancient world and problems of chronology in the Bible. Princeton, NJ: Princeton University Press, 1964. p. 300.

8. MONTET, Pierre. Egypt and the Bible. Philadelphia: Fortress Press, 1968. p. 54.

9. BIMSON, John J., Redating the exodus and conquest. Sheffield, England: The Almond Press, 1981. p. 33-34

10. PRITCHARD, James B., op. cit. p. 470-471.

11. HILL, Andrew E.; HALTON, John H. A survey of Old Testament. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1991. p. 109).

12. YAMAUCHI, Edwin M. The stones and the Scriptures. Philadelphia: A Holman Book, 1973. p. 48.

13. BIMSON, John J., op. cit., p. 34.

14. SCHWANTES, Siegfried J., op. cit., p. 25.

15. SHEA, William. H., "Exodus, Date of the", in G. W. Bromiley et al. (eds.), The International Standard Bible Encyclopedia. Paternoster Press: Exeter, vol. 2, 1982. p. 231.

16. Ibid.

17. SHANKS, Hershel. The Exodus and the Crossing of the Red Sea, According to Hans Goedicke. Biblical Archaeology Society on line Archive. Disponível aqui. Acessado em 14-05-06.

18. MOORE, D. Cameron Alexander. The Date of the Exodus: Introduction to the Competing Theories. Disponível aqui. Acessado em 22-05-06.

19. MONTET, Pierre. Op. cit. p. 54-55.

20. SARNA, Nahum. Israel in Egypt: The Egyptian Sojourn and the Exodus. Biblical Archaeology Society Online Archive. Disponível aqui. Acessado em 25-05-06. Outra alternativa para a historicidade do Êxodo ser corroborada é quando analisamos as listas geográficas do Pentateuco. Neste artigo, Sarna apresenta evidências para a realidade histórica do evento.

21. SHANKS, Hershel. op. cit.

22. YAMAUCHI, Edwin M. The stones and the Scriptures. Philadelphia: A Holman Book, 1973. p. 48-50.

23. DYER, Charles H. The Date of the Exodus Reexamined. Disponível aqui. Acessado em 19-05-06.

24. GEISLER, Norman. Ed. Inerrância da Bíblia. São Paulo: Ed. Vida, 2001. p. 85.

25. Ibid.

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