segunda-feira, agosto 27, 2007

Desenterrando um império (parte 1)

Você consegue imaginar um império tão poderoso e extenso como os egípcios desaparecendo na história e deixando poucos rastros arqueológicos? Por mais estranho que pareça, isso era tão possível que aconteceu. Em 1871, o que se conhecia a respeito dos hititas poderia ser sumarizado em sete linhas, como o fez a enciclopédia germânica Neus Konversationslexicon. Na realidade, o trabalho feito pelo autor do verbete “hititas” foi simplesmente o de juntar as referências esparsas encontradas nas páginas do Antigo Testamento e publicá-las.

Quem eram os hititas? Qual a sua relação com o relato bíblico? No que as descobertas envolvendo esse povo ajudam para a fé nas Escrituras Sagradas? Nesta série de artigos, apresentaremos de forma resumida o que a arqueologia bíblica tem a dizer sobre um dos maiores impérios da antiguidade.

Charles Texier: o ponta-pé inicial

Um nome importante envolvendo o estudo da hititologia é o do francês Charles-Felix-Marie Texier, que por volta de 1834 esteve no norte da Turquia, mais especificamente numa aldeia em Boghazköy. Ao que parece, ele foi o pioneiro em estudos naquela região. Próximo dali Texier se deparou com as ruínas de uma cidade, como Atenas no seu apogeu. A intuição era de que sem dúvida algum grande povo habitou ali passado. Um nativo da aldeia o levou até o lugar chamado Yazilikaya (rocha com inscrições), e foi ali que o pesquisador francês pôde ver os inumeráveis relevos de caráter litúrgico. Além disso, o local estava repleto de sinais semelhantes aos hieróglifos egípcios. Sua expedição, porém, foi sem sucesso na identificação das ruínas e dos sinais.

Pesquisadores alemães e franceses visitaram a região da Ásia Menor e ofereceram excelentes contribuições para os trabalhos de Texier. Ponto decisivo nesta história foram as chamadas “Pedras de Hamath”. Os moradores do local não permitiam qualquer contato com tais pedras, acreditando no seu caráter sobrenatural. É nesse ponto que entra a figura de William Wright. Ele já conhecia os objetos e conseguiu permissão do governo para aprofundar seus estudos utilizando-os. Texier conhecia as peças, mas não sabia o que eram. Em contra-partida, Wright tinha as inscrições, mas não sabia como traduzi-las.

Em 1870, W. H. Skeene e G. Smith, pesquisadores do Museu Britânico, encontraram as ruínas de Carchemish, na margem direita do Eufrates. Para surpresa deles, as imagens desenterradas eram semelhantes àquelas que Texier vira e as inscrições eram idênticas às que Wright tinha em mãos. Não apenas isso, mas alguns selos com a mesma escrita foram encontrados em Ismirna, na costa da Ásia Menor. Em outras palavras, uma escrita unificada de um povo unificado que habitou num vasto território.

Archibald Henry Sayce: a ousadia de um acadêmico

Foi nesse contexto que A. Henry Sayce, pesquisador oriental de 34 anos, afirmou, com base em suas pesquisas de campo e em passagens do Antigo Testamento, que todo esse rastro histórico pertencia aos antigos hititas, os heteus das páginas sagradas. A afirmação foi, é claro, recebida com descrédito. Como um livro religioso poderia conter dados históricos confiáveis? A informação bíblica parecia absurda demais. Em 2 Reis 7:6, por exemplo, os reis hititas são mencionados juntamente com os monarcas egípcios e, de forma curiosa, eles são mencionados antes que desses faraós.

Essa dúvida foi solucionada nos anos seguintes. A pá dos arqueólogos pôde revelar a existência de um poderoso império semelhante ao egípcio e ao babilônico, por volta do II milênio a.C., chamado de Hatti nos textos assírios, de Heta nas inscrições hieroglíficas e de heteus no Antigo Testamento.

No próximo artigo, veremos como se deram as descobertas que confirmaram a historicidade da Bíblia envolvendo os até então anônimos hititas.

Luiz Gustavo S. Assis, aluno do 4º ano de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP.

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