segunda-feira, outubro 30, 2006

Lixo que fala

Se você quisesse saber tudo a respeito de seu novo vizinho, qual seria o melhor meio? Conversar com ele ou... revirar seu lixo? Bem, pode não ser nada educado, mas analisar o lixo de alguém, durante algum tempo, pode ser a melhor opção!

No saco de lixo de cada dia você encontraria restos de comida; envelopes rasgados mostrando o remetente; embalagens de remédios; louças quebradas; roupas e sapatos velhos; pedaços de papel rabiscado; frascos vazios; extratos bancários; cartas; contas; e uma infinidade de outras coisas – até nojentas – mas muito, muito reveladoras!

Com esse lixo, um pouco de inteligência e um bom laboratório, imagine quanta informação você poderia obter! Você poderia saber quantas pessoas moram na casa; o sexo e a idade aproximada de cada uma delas; seus hábitos alimentares; se alguém está doente e de qual doença está sofrendo; sua condição econômica; o time para o qual torcem; suas preferências políticas; e até sua religião.

Foi assim que espiões já obtiveram muitas informações importantes no passado recente. E, de certo modo, é exatamente assim que nós, arqueólogos, obtemos informações sobre os povos que viveram na Antiguidade, há milhares e milhares de anos.

Arqueologia é a ciência que busca conhecer o passado estudando os restos materiais deixados pelas antigas civilizações: ruínas soterradas de cidades, templos, palácios, casas, sepulturas, utensílios, adornos, cacos de cerâmica, fossas, cisternas, sementes, ossos, inscrições, etc.

Por isso, a Arqueologia tem sido muito útil para se estudar os lugares, os povos e as pessoas mencionados na Bíblia. Embora eles tenham existido num passado bastante remoto, ainda hoje podemos encontrar seu “lixo”, isto é, seus remanescentes materiais. A Arqueologia, portanto, nos ajuda a perceber que aquelas pessoas existiram de fato e, ainda mais importante, nos ajuda a entender seu modo de vida, seus costumes e suas crenças. Em suma, a Arqueologia é uma importante ferramenta para que possamos compreender melhor a Bíblia.

Jorge Fabbro é arqueólogo, coordenador do Curso de Pós-Graduação em Arqueologia do Oriente Médio Antigo na Universidade de Santo Amaro (Unisa) e presidente da Associação de Amparo à Criança e ao Adolescente (Educriança)

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